Me peguei sendo omissa, ultimamente, diversas vezes. Faz parte do meu novo eu sábio, quase quarentão. Ainda dez anos atrás eu perdia tempo, amigos, compostura, tudo, por uma boa polêmica. Briguei com tiazinhas lavando a rua em Ribeirão Preto, em nome do meio ambiente; com carroceiros e pitboys, em nome dos direitos dos animais; com comerciantes exploradores, em nome do consumidor; com mães que maltratavam seus filhos e com pregadores da palavra do senhor. Ah, sim, e em favor do PT e dos direitos das mulheres também. Praticamente uma mercenária das causas nobres. Belo dia, até parece que foi ontem, parei. Não consigo mais me envolver em discussões. Nem me interessar, muitas vezes. Não quer dizer que passei a suportar ou admitir maus tratos, racismo, misoginia, muito pelo contrário.
Tudo isso pra contar sobre o furdunço do #lingerieday, na última quarta-feira, pelo Twitter. Eu não percebi exatamente quando começou porque minha rede de relacionamento no Twitter é pequena. Dois caras, que não sigo nem eles a mim, lançaram a campanha do #lingerieday nos avatares. Pra quem não freqüenta o twitter é assim: volta e meia aparece uma campanha, tipo #cartoonday. Também já teve campanha pelo Irã (avatares verdes), pela não-homofobia (arco-íris) etc.
Bem, o #lingerieday foi lançado e surpreendentemente duas blogueiras conhecidas por serem feministas aderiram: a Aline e a Lu. Estou dando os links porque há posts sobre a história toda. A Cynthia, que também é uma feminista tão intransigente (e isso é elogio) quanto a Lola (que se tivesse Twitter ia ter derrubado a rede) questionou o fato de elas estarem se expondo e se “objetificando” ao participar de uma campanha machista. Mais tarde a Mary W. entrou na discussão e pra finalizar, hoje, a Marjorie também fez um post a respeito.
Eu fiquei muito tensa enquanto lia as meninas discutindo. Não digo que dei razão a uma ou a outra. Todas têm pontos de vista muito interessantes sobre a representação feminina erotizada. Gostei particularmente da Aline ter escrito que “a erotização está longe de ser a linguagem corrente da tradição, da opressão, do silenciamento”. E é uma coisa chata do feminismo-clichê que praticamente exige um comportamento casto, de que a mulher “tem que se fazer respeitar”. Essa visão a Lu também rebateu, questionando o conceito de consentimento. Complicado, hein? Isso porque eu nem contei que tem até citação de Foucalt no meio.
Bem, defendendo o ponto de vista da Cynthia, a Mary* e a Marjorie, do outro lado da trincheira, fizeram daqueles posts detonantes, claro – e a Marjorie usou logo o exemplo de um dos meus episódios preferidos de Sex & The City pra demonstrar que as atitudes pessoais não podem ser descontextualizadas - o contexto, obviamente, machista/misógino.
Interessante, não é? Pena que todo esse debate só serviu para que as envolvidas se desgastassem, se chateassem. Não entendo como tantos argumentos de alto nível podem degringolar para uma situação pessoal, de ofensores e ofendidos (e houve até pedidos de desculpas, mas acho que tardios).
Independente do que eu acho da campanha, dos criadores, do cartaz, da participação, do feminismo, da erotização: são mulheres que até então estavam do mesmo lado nessa guerra. Se eu tivesse metade do arcabouço intelectual da pulga na gata de qualquer uma dessas meninas, acho que teria preferido entender a provocação, ou a indignação, da outra. Baixaria o dedo em riste. São mulheres que eu admiro tanto, bacanas, inteligentes, bem-humoradas, humanas e têm, em comum – além do fato de serem donas de gatas – o Feminismo. Enfim, 140 caracteres é pouco, mas suficiente pra magoar.
(e neste caso eu fui omissa, de novo, admito – pois não fiz comentários durante a discussão – mas pelo menos tentei aprender com toda a leitura que deixo pra vocês que estão por fora do Twitter, nos links, tsá?)
Bem, o #lingerieday foi lançado e surpreendentemente duas blogueiras conhecidas por serem feministas aderiram: a Aline e a Lu. Estou dando os links porque há posts sobre a história toda. A Cynthia, que também é uma feminista tão intransigente (e isso é elogio) quanto a Lola (que se tivesse Twitter ia ter derrubado a rede) questionou o fato de elas estarem se expondo e se “objetificando” ao participar de uma campanha machista. Mais tarde a Mary W. entrou na discussão e pra finalizar, hoje, a Marjorie também fez um post a respeito.
Eu fiquei muito tensa enquanto lia as meninas discutindo. Não digo que dei razão a uma ou a outra. Todas têm pontos de vista muito interessantes sobre a representação feminina erotizada. Gostei particularmente da Aline ter escrito que “a erotização está longe de ser a linguagem corrente da tradição, da opressão, do silenciamento”. E é uma coisa chata do feminismo-clichê que praticamente exige um comportamento casto, de que a mulher “tem que se fazer respeitar”. Essa visão a Lu também rebateu, questionando o conceito de consentimento. Complicado, hein? Isso porque eu nem contei que tem até citação de Foucalt no meio.
Bem, defendendo o ponto de vista da Cynthia, a Mary* e a Marjorie, do outro lado da trincheira, fizeram daqueles posts detonantes, claro – e a Marjorie usou logo o exemplo de um dos meus episódios preferidos de Sex & The City pra demonstrar que as atitudes pessoais não podem ser descontextualizadas - o contexto, obviamente, machista/misógino.
Interessante, não é? Pena que todo esse debate só serviu para que as envolvidas se desgastassem, se chateassem. Não entendo como tantos argumentos de alto nível podem degringolar para uma situação pessoal, de ofensores e ofendidos (e houve até pedidos de desculpas, mas acho que tardios).
Independente do que eu acho da campanha, dos criadores, do cartaz, da participação, do feminismo, da erotização: são mulheres que até então estavam do mesmo lado nessa guerra. Se eu tivesse metade do arcabouço intelectual da pulga na gata de qualquer uma dessas meninas, acho que teria preferido entender a provocação, ou a indignação, da outra. Baixaria o dedo em riste. São mulheres que eu admiro tanto, bacanas, inteligentes, bem-humoradas, humanas e têm, em comum – além do fato de serem donas de gatas – o Feminismo. Enfim, 140 caracteres é pouco, mas suficiente pra magoar.
(e neste caso eu fui omissa, de novo, admito – pois não fiz comentários durante a discussão – mas pelo menos tentei aprender com toda a leitura que deixo pra vocês que estão por fora do Twitter, nos links, tsá?)
*Update: texto editado pq estava enrolado demais.
18 comentários:
Sabe, Tina, no meu planeta, quando eu leio #lingerieday eu vejo homens de cueca, mulheres de calcinha e sutiã, todo mundo rindo e se divertindo. Acho que lá é mais simples. Sei lá, Vai ver que eu sou boba.
eu super te entendo, nossa, eu sou bem a sua praia. Mas no calor da discussão vc tava lá? nem um pitaco?
enfim, eu tô por fora, li os blogs e fico pensando só numa coisa, elegância cadê? respeito?
bjs
madoka
Oi Tina
Então, o que eu achei terrível foi esse monte de gente com o dedão apontado ofendendo as duas, sabe. Foi autoritarismo puro. Eu fui lendo e pensando: "Sério?! Então é assim?" Perto disso, o machismo da campanha virou fichinha, e olha que eu acho que a campanha é machistinha mesmo. Até gosto muito da Mary e da Cynthia, mas sei lá, fiquei decepcionada, triste.
Bjs
Rita
Lili, quem dera fosse simples assim;
Madoka, eu vi a discussão bem tarde, depois que já tinha pego fogo - ironicamente, foi na hora que eu estava fazendo a unha e só entrei no twitter pra contar a façanha, hahahaha: uma vergonha pro gênero.
Oi, Rita, concordo com você, mas também dá tristeza de ver aqueles caras escrotos do lado das meninas, ou seja, tudo um grande equívoco.
Oi, Tininha, só não vou me zangar com o intransigente que me foi dado porque vc falou que eu derrubaria o twitter. Ha, brincadeira! Não consigo nem imaginar vc me ofendendo de alguma forma. E como que se derruba um twitter? Bom, eu tb escrevi um post (atrasado) sobre esse bafafá todo. Mas acho que as coisas não tem que ficar tão polarizadas, sinceramente. E nem creio que vc precisa tomar lado, dona Vergonhinha pro Gênero.
Eu não conheço tuiter, mas compreendo que pessoas precisam interagir pra crescer. E só com a prática a gente vai aprendendo com qual tipo de interação a gente cresce, qual interação que só desgasta, em quais interações humanas a gente dá mais do que recebe e vice versa. Precisa prática mesmo, então esse monte de blablabla faz parte do processo. Interações, ou trocas, onde haja respeito mútuo, espaço para o crescimento, espaço para erros sem acusações, requer das duas (ou tres ou quatro) partes integridade, auto conhecimento, segurança, maturidade. Nem todo mundo chega ao mesmo tempo a essas qualidades, mas sem prática ninguém aprende, então acho dignas essas discussões rs.
Ah, Lola, eu queria tanto vc no twitter! Ia ser no mínimo um exercício interessante pra vc que é tão matraca quanto eu. E obrigada pelo comentário, vou lá mais tarde no teu post (obrigações maternais me ausentam por metade do dia).
Bia, obrigada pelo comentário, acho que é assim mesmo - eu sou do time das tolinhas, me assusto. Bjk.
Oi Tina. Quero agradecer de novo pelo seu carinho no meu blog.
Como aqui eu me sinto à vontade e acolhida, vou comentar uma coisa: justamente, não teve racha. Pq não existe esse Feminismo aí não.
Eu nunca sequer enxerguei um grupo coeso de feministas na blogosfera. E eu não concordo com a maioria das coisas que algumas das blogueiras feministas mais famosas escrevem, desde bem antes dessa briga. Então nesse sentido, nada se perdeu. Apenas foi exposto o que já estava lá (quem pensou q era só meu decote q estava exposto? :D)
Eu to desgastada, é verdade. Mas to feliz tbm. De ter posto tudo às claras, de saber exatamente de onde vem patada, de onde vem afago, etc. Pq de conteúdo mesmo, o debate no meu blog e no da lu serviu pra pouco mais do q restituir o respeito, que faltou bastante.
:***
.... de 'tolinha' vc não tem é nada, hein... eu acho, pelo menos.
Aline, que pena, agora percebo isso aí do racha que vc falou. Continue se sentindo em casa, aqui. Bjk.
Bia, hahaha, obrigada de novo, ou melhor, ;) (pisc)
Gostei demais do seu post. Bastante justo e cauteloso com as envolvidas. Sabe que sou sua fã. =P
Mas nesse caso, eu tomei partido da Aline e da Lu, de cara. Não me conformo que uma opção pessoal delas tenha descambado pra ofensa. Tem "feminista" no orkut que nem sabe conjugar tempo verbal direito chamando a Aline de "burra" e "ridícula". Aí me destemperei.
Também não acho bacana esse lance de "ah, mas se é campanha do Fulano, então deve ser ruim". Esse tipo de pré-julgamento é muito infantil, a meu ver. De repente se perde de conhecer uma boa idéia, um movimento bacana (em geral, não estou falando do #lingerieday que a meu ver, é só uma brincadeira, como a Liliana disse), por causa de uma pré-disposição pessoal contra alguém. Ah, e vai ter homem de cueca no movimento sim.
Tina, vc me quer no twitter pra me ver sofrer, é isso? Não, obrigada. Eu já sofria quando trocava recados pelo orkut (agora só checo orkut a cada duas semanas, se tanto), porque o troço sempre cortava meus comentários. Não sei quantos caracteres pode no orkut, mas tenho certeza que eram mais de 140. Eu não teria nem como dizer "oi" no twitter, Tininha.
E sobre as feministas não serem unidas na blogosfera, isso não é novidade. Não começou esta semana.
Tina, eu era daquelas na escola que tomava advertência/ia parar na diretoria por defender os colegas; daquelas que falavam desaforo pra gente que maltratava idosos em fila de banco. Hoje, não mais - dá uma canseira só de pensar...
Pois eu gostei do seu jeito de falar sobre o assunto, sem dedo em riste. Te gosto mais ainda depois desse post. ;)
Acho isso tudo tão chato. Eu gosto tanto de todas, vai alem do intelectual. Uma pena mesmo.
tudo é possível quando sei que liberdade e responsabilidade são siameses e arco com todas as consequências do que faço. Caso contrário, é ser falso(self) para parecer moderninho para os desavisados.
fique bem!
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