terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Montanha dos Sete Abutres

Ontem decidi que só volto à academia quando o frio voltar e as siliconadas forem embora do vestiário. Elas demoram demais pra passar os cremes depois do banho e eu fico lá, enrolada na toalha, esperando a minha vez à beira de um ataquinho. Mas não era isso que eu tinha pra dizer. Por causa da desistência da academia, fui fazer um exercício lá no Espaço Fitness Cult Gourmet, que voltou à programação normal. Fiquei mudando de canal enquanto corria no elíptico. Isso tudo só pra contar que normalmente eu não paro pra assistir Jornal Nacional, a não ser que tenha visita em casa - tipo a mãe ou a sogra - que goste. Mas zapeei, zapeei enquanto resfolegava, e parei lá.

Não suporto Jornal Nacional, não suporto o olhar reprovador e/ou condescendente do William Bonner, apesar de no twitter ele ser bem queridinho (@realwbonner). A Fátima Bernardes com aquelas caretas de mãe-de-todos também me fazem passar mal.

Enfim.

Vi a entrevista com os donos da pousada de Angra, em que morreram sei lá quantas pessoas, e que tiveram a filha morta também, arrastada pela lama e pela água. Coitados. Já comentei no twitter que não tenho acompanhado a tragédia. Não é egoísmo, é que eu sou fraca dos nervos mesmo. Não aguento, não durmo, fico em pânico.

O objetivo desse post, obviamente, é deixar registrado meu asco - palavra fraca, mas ojeriza é feia demais - pela tal entrevista. Me digam pra que serve ser a maior rede de tv da América Latina, a mais rica, a que mais investe em tecnologia, a que paga mais caro pros melhores (ui) atores, a que comanda mentes e corações, se na hora de uma tragédia seus repórteres se comportam exatamente como os urubus caricaturais (mas nem tanto) de A Montanha dos Sete Abutres ou de La Dolce Vita?

De início eu não tinha entendido por que o Tino Marcos, repórter de esportes, pra entrevista-furo. Mas segundo o site, e como foi explicado no início (clica aqui), que perdi, ele é amigo da família e conhecia a menina desde criança.

Bem, eu não usaria minha amizade com uma família que acaba de passar por uma tragédia para me dar bem no trabalho. Mas ok, o cara conhece os pais - que estão à base de calmantes e sem muita noção do que fazem, certamente - e consegue a entrevista.

Daí que a Globo repete um daqueles vexames históricos, tipo o JN quase 100% destinado ao nascimento da filha da Xuxa. Fazem - permitem, editam e não pautam - uma entrevista chorosa, dramática, aliada a um clipe do Eric Clapton e imagens da menina.

Pleno século XXI.

Mas então tá, os pais estão lá, ninguém quer ferir sentimentos, abusar da vontade deles de honrar a memória da filha. Mas CUSTAVA ter UMA pergunta digamos, informativa? Tipo: - A Defesa Civil nunca avisou que seria perigoso ficar ali em caso de excesso de chuvas? - Quando construíram a pousada, não houve alerta de engenheiros para a possibilidade de erosão? - Se, como um hóspede informou, chovia muito e diversas pedras caíam do morro, vocês não se preocuparam? - Não houve deslizamentos em épocas de chuva anteriores? etc.

Não precisava perguntar tudo. Umazinha bastava pra justificar a entrevista além do óbvio aumento de audiência. Veja só: o caso do Sean. O Clovis Rossi escreveu durante a comoção toda que aquilo não era assunto pra mídia, era particular. No dia seguinte o Ricardo Boechat comentou que não; se durante uma reunião de presidentes um caso familiar entra na pauta, ela se torna pública. Essa entrevista com os pais da garota poderia ter um gancho jornalístico. Poderia ter uma "notícia" embutida. Mas não, a informação não interessa mesmo, só o espetáculo da dor de terceiros.

7 comentários:

Michele disse...

Ai, Tina... então espero que você não tenha visto a "edição" de hoje, com o mesmo Tino Marcos (acho que era ele) entrevistando do modo mais sensacionalista, como convém, um homem de Angra que perdeu sete familiares...

Ou seja, a entrevista de ontem deve ter dado ibope...

bj...

Caminhante disse...

Eu não vi, não quis. Escolheram essa menina como símbolo, porque era bonitinha e tem video dela cantando e tocando violão.

Como você disse, a pergunta é: pra quê? Não foi assassinada, os pais dela não tem nenhum recado pra dar, ninguém está pedindo justiça... É só pra pessoa olhar e se deprimir com a fatalidade. Se eu fosse esses pais, teria me recusado.

Anônimo disse...

que saco de tv Tina. Tou contigo, sem tirar uma vírgula. E o pior de tudo é que a culpa recai para o coitado do São Pedro, sempre. Ainda bem, por aqui estou livre do casal bonner.
beijinhos
madoka

lola aronovich disse...

Bom, nem assisto TV, mas isso de dar destaque à tragédia quando a vítima é rica é tão comum... A menina de Angra tem nome, fotos, imagens, depoimentos de amigos e parentes. As vítimas pobres são todas anônimas. E também é interessante o enfoque que se dá à mesma tragédia. Quando acontece um deslizamento e ricos morrem, é uma catástrofe da natureza. Quando acontece um deslizamento e pobres morrem, bom, obviamente eles invadiram terras e não deveriam estar lá.
Mas melhor nem apontar essa discrepância ou o PSDB pode entrar com representação por preconceito de classe... contra os ricos. Sério. Eles acabaram de fazer isso por conta do programa de TV do PT.

léia freitas disse...

Lola disso tudo! eu já nem tô assistindo JN mas ouço quando passo perto da tv e, puxa vida, é deprimente, não a tragédia em si mas a cobertura dada a ela.

Rubão disse...

Não vi o JN, mas falou e disse. Ondé que eu assino?

aiaiai disse...

Melhor é ficar longe da venus platinada. Disgusting!