Domingo frio, Copa do Mundo, ressaca da festa de aniversário da sogra no dia anterior. Ideal pra ficar debaixo das cobertas e na frente da televisão, detonando os salgadinhos e docinhos que sobraram. Mas não. Sua filha quer participar da Copa de Judô num ginásio de esportes quase no fim do mundo. Você pagou trintão pela inscrição e deixaria pra lá se pudesse, mas ela quer medalha. Então, sem saber bem onde está se metendo, você tira o marido (que como sempre está com um artigo atrasado etc.) da frente do computador e vai lá carimbar o passaporte da Funai.
Passei algum medo, porque o negócio não era tão organizado quanto parecia no folheto. Adultos e adolescentes estranhos pegaram minha menina e levaram pra uma sala com outras crianças de sua idade. Dá um paniquinho de não tê-la à vista. Depois de uns minutos sem ar (eu) fica tudo bem, ela surge de mãozinhas dadas com meninas do seu tamanho (a separação era por semestre de nascimento e peso) para esperar a hora das lutas. Demorou e nesse meio tempo ficamos de longe vendo Nina tentando fazer amizades e tagarelando com as meninas estranhas - já que foi a única de sua escola a participar (um guri da mesma turma também foi). Eu achava que seria uma baba: chegaria lá, encontraria as colegas da escola, lutariam entre elas e pronto, uma medalha pra cada, todo mundo feliz indo pra casa.
Mas não, repito, Nina ficou entre estranhas - pequenas, mas estranhas, e com seus grupinhos pré-formados, nos quais ela não foi admitida, obviamente - e passou algum medo. A maior parte das crianças ali levava a competição a sério e treinava judô com maior frequência ou dedicação que a Nina. Bem, Ninotchka TEM judô na escola, mas é uma hora por semana com a turma toda de 20 colegas. Não dá pra dizer que ela realmente TREINE judô. Isso ficou claro quando seu "treinador", o tio P., mal deu bola pra ela. Nem arrumou o cinto gigantesco de seu quimono, antes de ela entrar. Ficou reclamando porque só ela e o coleguinha tinham comparecido, porque a escolinha demorou a mandar os "convites". Blabla.
Enfim. Nina perdeu as duas lutas. Ficou em quarto lugar (de quatro meninas) e subiu no pódio do 3º, ao lado da verdadeira 3ª colocada (eu ficaria meio puta se fosse a menininha). Foi assim com todas as equipes. Durante as lutas ficou claro que ela não sabia muito bem o que estava fazendo ali. Na segunda ela ria muito, estava achand legal, mesmo, bem quando acabou a bateria da minha câmera idiota. Duas vezes se recuperou de tombos, saindo debaixo da menina que a segurava, jogando a bundinha pra cima. Mas só gravei a primeira, em que ela perdeu pra uma japonesinha muito fofa que parecia o diabinho da Tasmânia, de tão rápida - tanto que foi a campeãzinha da chave.
Nina ganhou medalha igual a de todas as outras crianças. Mas chegou em casa arrasada. Não queria nem beijo. Depois de duas horas vendo desenhos (que eu normalmente não deixo ver), comendo Cebolitos (comfort food) e tomando suco de manga, desligou a tv e disse: "mamãe, eu não estou chateada com você e o papai, estou chateada comigo, porque só perdi".
Aí foi uma noite toda de doutrinação: o que importa é competir. Tentei fazê-la valorizar o fato de que foi a única menina da escola e da turma que teve coragem de sair de casa naquele dia pra lutar. Que não desistiu quando viu que as lutas eram sérias. Que não ficou com medo de sair machucada (hoje está com o bumbum doído) e que, até se dar conta de que tinha perdido, ela estava se divertindo. E que pra gente esquecer uma derrota, só tem duas saídas: ou treina pra ganhar na próxima competição, ou faz judô (ou o esporte que for) só pra curtir e não para competir. Porque por mais que tenhamos medalhas de ouro, tem muita gente no mundo melhor - e pior - que a gente em milhares de modalidades.
Taí o vídeo da primeira luta. É fofo. Desligue o som porque minha voz estraga tudo (imagino, não me ouvi ainda). Hoje Nina foi pra escola de medalha e já no portão a tia que pega a mochila a cumprimentou por ter competido. Só cá entre nós, minha campeãzinha.
11 comentários:
Foi o árbitro que arrumou a faixa da Nina? Sacanagem do tio P hein!
Mas Tina, parabéns! a Nina tem sorte de ter ao lado, mãe que a acompanha na suas jornadas, seja no frio, na derrota, na vitória, nos cebolitos, esse suporte é importante para qualquer luta na vida! ;)
Meu irmão também fazia judô e também foi pra uma competição dessas. Empatou (ou perdeu?) uma e perdeu outra. Lembro bem que ele lutou com um menino que tinha o dobro do tamanho dele. Mas a chave dele só tinha três, então ele ficou com medalha de bronze.
Tadinha da Nina. Perder é ruim em qualquer idade. Deve dar vontade de colocar ela à salvo dessas coisas até crescer mas... é assim que a gente cresce, né?
Já disse que acho crescer uma merda?
Acho que foi ótimo pra Nina ter ido. Perdendo ou ganhando, sempre se aprende. :)
Lindo post, Tina. Não desmerecendo seu talento, mas é tão fácil, né? Sua fonte de inspiração ajuda bem.:-P
Bjs, Nina. Procê tbm, Tina.
Adorei o post, o vídeo...
Tina, te falei ontem no Twitter, repito aqui - isso que vc fez, de conversar com ela e tentar apontar os aspectos positivos da coisa toda é tão a minha mãe. Morri de saudade da D. Terezinha, viu? Sei que se ela não tivesse ido embora tão cedo da minha vida eu teria sido uma pessoa muito mais segura e confiante, e ao mesmo tempo saberia lidar melhor com certas situações.
A Nina é querida e tem uma sorte imensa de te ter na vida dela.
xx pras duas.
Parabéns para a Nina, viu? Por ter lutado, por ter enfrentado a situação toda, por ter entendido e expressado o que estava sentindo. Ela é uma vencedora!
mil beijos
Parabéns para a Nina, viu? Por ter lutado, por ter enfrentado a situação toda, por ter entendido e expressado o que estava sentindo. Ela é uma vencedora!
mil beijos
não sei o que achei mais fofo, ela cumprimentando a adversária com os cachinhos balançando ou nina entendendo e explicando por que estava zangada.
Nunca competi quando criança (salvo uma competição de desenhos, eu ganhei), mas na adolescência, fui super atleta, viajava, dormia em alojamentos, tomava banho em lugares ultra improvisados... e era tãããão legal! Tomara que ela não desista, participar de competições esportivas é super divertido!
beijão
Eu adoro NinaPosts.
A japonesinha era ninja mesmo...rs...dá peninha imaginar ela tristinha, comento cebolitos. Mas aprender a perder "faz parte", como dizia o filósofo do bbb.
Beijo a vcs. O video é demais e sua voz ficou maneira.
Tem outra coisa que faz esquecer tbém,tequila.Eu mesmo não lembro de nada de ontem a noite...
Falando mais sério,lindo texto.
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