sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Como eu vi Baryshnikov só de roupão?




Eu fazia estágio no Teatro Guaíra em 1991.

Era - e é - todo um mundo à parte. Quem vê o Guairão por fora não tem ideia de que lá dentro há pelo menos uma centena de pessoas trabalhando, diariamente, entre funcionários públicos e estagiários. Nem dos labirintos de escadas nos quais você se perde e de repente, sai por um alçapão no meio do palco.

Bem, naquele tempo o Guaíra era o único teatrão da cidade (a Ópera de Arame é uma piada arquitetônica), acho que agora o movimento deve ser menos frenético, com toda a concorrência que surgiu desde então.

(Ainda pretendo escrever um livro. Ou uma crônica. Um conto. Quem sabe um post - sobre o teatro)

Como não tinha muito o que fazer, passava o dia todo vendo ensaios de orquestra, de balé, ópera, espetáculos underground etc.

Depois, assistia a tudo de graça, nos lugares mais privilegiados da platéia. É que eu e minha amiga Marta, hoje uma comerciante de sucesso na capital, inventamos que, como futuras profissionais de comunicação e assessoras de imagem, deveríamos estar atentas a todos os detalhes do cumprimento das funções do Teatro. Bolamos uma planilha para completar a cada show, dando conta se as cortinas foram corretamente fechadas, se a iluminação dos corredores estava boa, se o atendimento dos lanterninhas era adequado, se os banheiros estavam limpos etc.

Duas pirralhas metidas dando o truque, claro, pra ver todos os espetáculos na faixa - e ganhando hora extra! Bem, a hora extra foi cortada depois de um mês. Éramos pobres mas éramos felizes, como dizem os ricos*.

E assim, volta e meia, dávamos de cara com esse tipo de cena.

Mikhail Baryshnikov, suado, cansado de um ensaio, lindo, só de roupão branco, fez a todos a gentileza de descerrar uma placa de homenagem à aposentadoria do chefe dos contra-regras, o seu Esposito - que, apesar disso, continuou trabalhando por muitos anos, e deu lugar a seu filho, que até então estava treinando na função. Então fomos eu e mais uns 30 privilegiados que tivemos o prazer descrito lá no outro post, no Jogo do Currículo.

Foram quase dois anos fazendo esse trabalho, em paralelo com o estágio da Biblioteca Pública e depois, com os primeiros dias numa agência de propaganda.



Da série: eu era feliz e sabia.
*citação daqui

6 comentários:

Grazi disse...

São essas passagens que fazem a gente ver que valeu a pena. Essa descontração e irresponsabilidade responsável, não voltam mais. É disso que eu sinto mais falta. Ficou incrível o texto! =)

Caminhante disse...

Posso falar? Decepcionei um pouco. Eu te imaginei entrando nos camarins pra resolver alguma coisa. Barixi teria um só dele, e estaria lá dentro em pura concentração e nu em pêlo. Você entra burocraticamente e o flagra quase nu; ele se cobre rapidamente. Você cora, pede desculpas, se retira e sorri encostada na porta fechada.

Rita disse...

Dois posts em um: o seu e o comentário da Caminhante.

Um livro, escreva um livro.

Alegria alheia aqui - bastidores, amo bastidores. Guaíra, tipo assim, um mito pra mim. Adorei.

Bj
Rita

Helê disse...

Gostei, Tina, mas tô com o Caminhante, tb me decepcionei um bocado. É que a parte da minha mente que não tá passando desenho animado passa sacanagi, hahahahahaha!

Anônimo disse...

"INVEJA"

Vivien Morgato : disse...

E eu achando o m[aximo ter sentado ao lado do Seltom Mello e do Pedro Cardoso no Guapo Loco...tadinha d emim...hahahahh