terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Santos e outros nem tanto

Travei pra continuar contando de Roma. Como se eu não tivesse gostado ou como se algo houvesse ocorrido. E não, mil vezes não. Roma me deixou encantada, a luz de Roma é maravilhosa, e os cheiros, ah os cheiros de Roma, pães, pizzas, salames, fornos a lenha, misturados à fumaça do trânsito. Coisa que adoro é cidade grande. E os sustos de encontrar restos milenares a cada esquina. Descampados com colunas caídas, assim, do nada. Do alto daquelas colinas, quantos séculos nos contemplam? E as pessoas? Homens, mulheres, lindos, arrogantes - sabem que são invejados.

Continuando a caminhada, fomos até o Castelo de Santo Ângelo, logo depois de um almoço com a primeira pizza. Já mencionei que as pizzas são individuais, de 30 cm? E que têm poucos ingredientes, porém os melhores que já provei na vida? Isso em qualquer pizzaria de esquina, mesmo as desprovida de nonnas e mammas. Nunca haverá um prosciutto como o original italiano [drama].

Aprendi que um castelo é praticamente o oposto de um palácio. O Palácio de Versalhes era luxo, poder e sedução; o Castelo é bruto, é proteção, é guerra. Fiz poucas fotos porque minha câmera, nessa altura do campeonato, já estava arriando. Mas sabe um lugar fechado, de pedra, com masmorras, grades, escadas, rampas, tudo bruto, na pedra? Só não tem ponte levadiça. Sufocante, pesado. Era o lugar pra onde os Papas corriam, por um túnel subterrâneo, pra se proteger de possíveis ataques.



Aí você sobe, sobe, e dá de cara com a vista mais maravilhosa de Roma – 360 graus. Foi um dia lindo, de sol, limpo de nuvens, e aquele sol de ladinho, que vai caminhando com você, sem queimar o cocoruto, joga na cidade uma luz que pinta tudo de tons de pastel.

 (repara nas árvores de copas arredondadas)

Tem um restaurante no topo desse castelo, onde já foram feitas dezenas de filmes. Seria o programa mais bacana da cidade, sentar lá e beber olhando essa paisagem. Mas não pode sentar sem consumir e gente, a água mineral custava 4 euros. Faz favor. Além disso, tínhamos alguma pressa de seguir pra Basílica de São Pedro (eu, pelo menos, queria “matar” esse compromisso logo).

Ah. Eu meio que passei mal no Castelo de Santo Ângelo. No caminho para descida há um pátio com masmorras. Há restos de um carro de boi usado para transportar comida. Aí, lendo guia e conversando com os companheiros, descubro que ali eram torturadas as mulheres presas pela Inquisição. Que os dominicanos, ordem à qual pertence o Castelo, eram os criadores e executores da Inquisição. Os que mandavam o povo pra fogueira. Ainda fico emocionada de pensar nisso - e o lugar começou a me sufocar de novo. Pedi pra irmos embora logo.



Chegamos à praça e à Basílica, tudo muito imponente. Confesso que até menos do que eu esperava. Até você reparar nos detalhes. As colunas são gigantescas e de 4 em 4 – de longe parece uma coisa só. Os papas e santos esculpidos no alto são absolutamente impressionantes. E estou falando do prédio anexo. Jacuzice típica de católico: um presépio em tamanho humano no meio da praça. Gente, já era  20 de janeiro. Climão. Nem fiz foto.

O que eu esperava da Basílica de São Pedro? Ver a Pietà de Michelangelo, claro. E o teto da Capela Sistina. Primeiro erro: a Capela Sistina fica no Museu do Vaticano, uma boa caminhadinha à direita – que só foi feita no dia seguinte.

Ah, eu queria ver os guardas suíços vestidos de... bem, nestes trajes, também.

Tudo ali na Basílica foi feito pra impressionar. E o papa seguinte quis impressionar mais que o anterior. E o seguinte, um pouco mais. Assim, sucessivamente, até que a Basílica virasse o que é hoje, um amontoado de obras-primas, sem hierarquia entre si, numa demonstração de riqueza que suplanta qualquer tesouro de cinema. A Basílica é over.

A Pietà está quase escondida, no escuro, numa caixa de vidro, à direita da entrada. Mal se pode vê-la. Não dá pra andar em volta dela. Não dá pra chegar perto. Eu, que me acostumei a praticamente cheirar as obras de arte, mal acostumada com o D’Orsay e o Louvre, fiquei indignada. Eu sei, eu sei, eu sei que um doido atacou a escultura anos atrás, quebrando seu nariz, o que fez com que a proteção fosse aumentada. Mas os suíços vestidos de palhaço bem que podiam guardar melhor as esculturas, ficar em frente delas, impedindo outro louco de marreta de chegar perto.




E o que mais tem lá pra se ver? De tudo. Túmulos, túmulos, túmulos. Tem o de uma tal Rainha Cristina, espero que seja a do filme com a Greta Garbo, daonde minha mãe tirou meu nome (e eu não podia deixar de fazer uma foto lá, né). Um papa, declarado santo (Jeromo), transformado em boneco de cera – coisa mais creepy que já vi. Mas há que se respeitar – as pessoas que o visitam acreditam que ele não apodreça justamente porque é santo. Altares, altares, altares, um encobrindo a visão do outro, um mais grandioso que o anterior, é como se houvesse umas 20 igrejas dentro da basílica – nunca imaginei que fosse assim. E todo o mármore do mundo. Não sei como sobrou mármore pras minhas pias de casa.






Gostei? Bem, tem coisas maravilhosas por lá. Não tenho fé, não me emocionei com nada. A emoção mais forte que tive foi frustração de ter a Pietà tão longe. No meu mandato como Papisa, eu desmembraria as obras de arte da Basílica e transformaria em pelo menos 10 exposições itinerantes. E ainda assim a coisa por lá continuaria grandiosa. Mandaria os guardas ficarem mais próximos das obras de arte, em vez de encaixotá-las. Certeza que angariaria mais fiéis, não reduziria o número de turistas e seria reconhecida como Cristina, A Mecenas. E assim finalizo meu momento-santo neste blog. Ops, não, ainda tem a Capela Sistina - a minha interpretação dela.

5 comentários:

Juliana disse...

Quero ir à roma tb! Hoje! Agora!

Seus relatos são uma delícia!

Denise disse...

Cris,

Dá pra ver nas suas palavras que você gostou muito de Roma. Quem não gostaria, né? (ops, se bem que conheço quem não gosta.. rsrs). Ainda não li os sobre Paris. Tenho certeza de que vou amar ver o seu relato daquela cidade maravilhosa. Vou ler agora.

Beijinhos, Dê.

Rita disse...

Disse no twitter e repito aqui: Tina Lopes para Papisa, por uma Pietá sem caixote.

Amo Roma e seus buracos, sua bagunça sua história infinita nos cercando... ai, amo muito.

Bj.
Rita

Rubão disse...

Bento dezesseis, pede pra sair!

Luciana Nepomuceno disse...

Não vou mais ler isso (mentira)..dói muito. Quero viajar now e ver tudo de novo, agora também com seus olhos. Obrigada pelos belos posts.