domingo, 27 de março de 2011

Mire-se no exemplo da Marieta

Daí depois de duas décadas de casamento, marido da amiga decide mudar o formato pra "casamento aberto". Mas esquece de avisá-la. Flagrado exercitando o novo padrão de relacionamento, com uma jovem da metade da idade de ambos, o marido acusa a mulher de sufocante, reacionária, so last century.

Ela é do tipo apaixonada, apesar de todo o tempo juntos. Mesmo com a atitude francamente agressiva do - ? - companheiro, está indecisa entre separar ou aceitar o novo formato que ele oferece: casamento aberto, dos dois lados, mantendo a convivência familiar rotineira.

Eu não sou íntima e nem me foi pedido conselho, mas quando a gente ouve esse tipo de coisa é impossível não meter o bedelho. Fui um pouquinho além dos "oh", "ah" e "pqp" e ponderei que "aceitar" uma situação é, antes de tudo, tê-la imposta.

Não me venham dizer que a fidelidade do casamento também é uma coisa imposta. Claro que é. Mas o contrato foi aceito, não foi? Se tem uma coisa que aprendi no meu recente e já quase falecido trabalho é que contratos podem ser alterados com aditivos. Mas tem de haver negociação e ser de comum acordo. As partes têm de ceder e investir nos novos termos.

Minha amiga é uma mulher bonita, chegando aos 50, que aparenta pelo menos 10 anos a menos e se esforça pra isso: sofre mais que algumas outras com o avanço da idade, tem uma perspectiva negativa da velhice. Esse é um fator que pode levá-la a aceitar a proposta, pois nunca enfrentou a vida sozinha e nunca pensou em se deparar, a essa altura do campeonato, com a solidão. O marido é mirrado mas tem bom papo e uma caixinha de Viagra no bolso.

Tentei animá-la. Lembrei da Marieta Severo: quando separou do Chico, pensei, pô, coitada, tava no topo da cadeia alimentar e agora ficou sozinha. E taí, linda, absoluta, com namorado (ou marido) gato, nada de gurizinho pra aparecer na Caras, não.

É, eu sei, sou boa de ouvido mas ruim de comentário. Foi o que me ocorreu.



PS - Não sou uma pessoa ciumenta, como já discorri aqui, mas não acredito absolutamente em casamento aberto. Sei que há uma ou duas exceções e não me venham com Simone e Sartre, que esse argumento é batido demais.

17 comentários:

Caminhante disse...

Minha pequena experiência com isso - que não é pessoal - me diz que existe uma parte que quer ter outros parceiros e tem; a outra parte aceita, não usufrui do seu direito de ter outros parceiros e teria um relacionamento fechado com o maior prazer. Ou o acordo era relacionamento aberto mas na hora em que aconteceu, doeu demais e o outro percebeu que não aguenta e foi embora.

Digo que em teoria é uma boa idéia, mas que não conheço quem a coloque em prática com tranquilidade. Não acho que sejamos culturalmente preparados pra isso, pelo menos não ainda.

Anônimo disse...

Acho que, quando um dos dois propõe mudar o casamento pro modo "aberto", já deve ter rolado uma "abertura" em segredo (leia-se pulada de cerca). Não é coisa que possa ser previamente discutida numa boa, aqui em casa, pelo menos. Se um dia me aparecerem com essa conversinha, vai ser briga na certa.
bjs.
Jana.

Raiza disse...

Fico curiosa em saber se caso ela aceite,e passe a exercitar a abertura do lado dela também,se o marido vai continuar achando essa idéia assim tão boa.

Rita disse...

Eu comento depois que pasar do estágio "pqp" porque parei ali.

Ah, what the fuck, quer saber: não sei da nada, mas ele foi FLAGRADO e só depois fez a proposta? Sooo cute. #not

(Mas né, tenho nada a ver com a vida dela, ela que tem de saber o aperta o sapato.)

Bj
Rita

Babi disse...

O marido só ofereceu o casamento aberto porque tem certeza que a mulher nao vai levar isso à frente, ou seja, a parte aberta é a parte dele, enquanto ela fica com a parte do casamento...

Acho que isso de casamento aberto só funciona de duas formas:
1. as duas partes ja nao se importam muito mais uma com a outra, nao se atraem, mas sao bons amigos e querem manter aparencias e a comodidade da vida à qual ja se acostumaram. Ambos exercem seus direitos à abertura do casamento.

2. É o caso de Simone e Sartre, pessoas extremanente evoluídas. Se amam e se respeitam ao ponto de deixar o outro fazer o que quiser. Como já mencionei, pessoas extremamente evoluídas. Nao vivem no mesmo patamar que nós, meros mortais.

Luciana Nepomuceno disse...

Quando eu era jovem (leia-se pré-filho)tinha felizes relacionamentos abertos. Era bom e funcionava porque eles moravem em outras cidades, viajavam pra me ver, rolavam cartas, correspondências, emoções assim. Foi bom, mas jovial. Depois de adulta (leia-se pós-filho e pós primeiro casamento) meu relacionamento fechado e de casamento marcado pra dali a um mês(e diga-se, muito ciumento), resolveu que teria um relacionamento aberto - mas não me contou. Quando soube e a proposta veio, respondi com um bom Não. E fui chorar na Itália que travesseiro é canto quente mas Roma tem mais paquera \o/

Antônio LaCarne disse...

Concordo com o que você disse, não sou um adepto do relacionamento aberto. E achei muito interessante esse texto, está de parabéns. Resolvi deixar a preguiça de lado e partir pra leitura de blogs, encontrei o seu e achei uma maravilha. Abraços!

Verônica disse...

sou contra relacionamento aberto. minha cabeça não é tão aberta assim e sou ciumenta pra caramba.
mais concordo com o povo, o marido só teve essa "brilhante" ideia porque sabe que a mulher não vai tomar parte nela. é um jeito dele institucionalizar as amantes.

Lueni Vilas disse...

Ola, ñ tenho habito de ler outros blogs e hj resolvi ler algum e acabou por ironia do destino sendo o seu.
primeiro de td parabéns pelo belíssimos blog e excelente texto.
sobre a relação aberta, vou dizer o meu relato. Aconteceu comigo.
sempre tive o discurso q ninguém consegue a vida inteira só sentir tesão pela msm pessoa. msm q ame.
se uma relação é feita de lealdade, cumplicidade e amor sincero. s e algumas das partes sentem interesse por alguém, deveria ter a oportunidade de expor a proposta. Melhor q trair, assim a lealdade e cumplicidade vai p/ o espaço.
pois então, esse dia chegou e confesso ñ foi a melhor noticia.
ja namoravamos 3anos serio, de mt cumplicidade, companheirismo, planos p/ o futuro, uma historia linda, parecia filme de chegar a dar inveja em algumas pessoas. Eu simplesmente vivia um sonho.
Qd me pediu p/ abrir a relação me senti traída, um lixo, enganada... pq semanas antes me sentia angustiada sem saber o motivo. td estava na + perfeita ordem. E comentei com ele varias vezes sobre essa angustia e eu ainda disse: “poxa algo de ruim parece q vai acontecer, to com essa angustia q ñ aguento” e ele só disse “relaxa, ñ há de ser nada. Vc vai ser.”
Conversamos a noite inteira chorei bastante, me sentindo como o meu mundo estivesse caindo e q aquilo estava sendo o fim no meu namoro. Ouvi os seus motivos e aceitei. E por fim decide em aceitar a relação aberta (uma atitude em desespero, medo de perder), pelo motivo, se ele já ñ está + se sentindo completo e precisa disso p/ completar a sua felicidade. Ñ custa nada tentar. Logo ele q já abriu mão de tanta coisa p/ estar comigo, pq ñ fazer algo q o meu amor me pede, se ele nunca me pediu nada.
+ no fundo eu achei q ele ñ teria coragem em destruir uma coisa tão sagrada q era p/ nós, o amor. Já q ele tinha dito q ñ era por ninguém, q ñ existia alguém, só era uma vontade. então podia acontecer dele ñ ficar.
+ engano meu, nem uma semana depois da abertura ele tentou sair com alguém, sem sucesso, + foi uma tentativa e daí por diante isso virou + ainda um inferno.
Nós q nunca brigávamos, passamos a brigar quase tds os dias exaustivamente, o respeito ia acabando, vinha às magoas, rejeição, tristezas sem fim, ciúmes excessivos, posses e o amor cada vez + machucado, + ferido e ele parecia q ia diminuindo.
Isso durou 3 meses, + foram meses de pesadelos. msm depois do fim do namoro ainda quis q ele voltasse, eu parecia q estava viciada, sempre estava disposta a querer tentar td dia msm sabendo q ñ iria aguentar.
Eu ñ conseguia me envolver, ate saia com outros caras, + eu via q eu ñ precisava disso, eu estava me forçando a uma situação q eu ñ queria. E ficava triste, horrível, a pior mulher do mundo. Pq ele só me bastava, + eu só ñ bastava a ele.
Eu queria ser evoluída, sentir o amor incondicional e era uma frustração pq eu sentia sentimentos tão primitivos e q eu precisava evoluir mtooo p/ chegar a sentir esse amor incondicional.
Hj olhando p/ isso td q passou, por um lado foi bom. Eu aprendi mtoo e me conheci, vi um outro lado meu q desconhecia. E hoje posso dizer q relação aberta pra mim ñ funciona. Só funciona se eu ñ tiver amor por aquela pessoa e ñ querer nada serio.
desculpa pelo desabafo enorme, só achei q ñ foi por acaso q encontrei o seu blog

Bjus Lueni Villas

Tina Lopes disse...

Impenetrável, bem-vindo, obrigada; Lueni, obrigada pelos elogios e pelo comentário.

Anônimo disse...

tenho conhecidas que tem motivos vários para se separar dos respectivos maridos mas não se separam principalmente pela questão primeira e disparado que ganha é o de enfrentar a vida sozinha e de todas as outras consequências que virão depois disso, solidão, o que as pessoas vão pensar? etc e tal.
bjos Tina
madoka

Ronise Vilela disse...

Antes eu jamais conceberia esse "modelo", mas acho que a geração da minha filha já vai encarar isso bem mais tranquila.
Fidelidade é imposta, mas não inerente a nossa espécie, por isso há o sofrimento.

Anônimo disse...

eu ja tive relacionamento aberto durante 5 anos e foi muito bom, eramos jovens e felizes , so nao valia escoder com quem tava ficando ou ficar durante muito tempo com a mesma pessoa. sinto k ate hoje nos amamos mas terminamos por outros motivos estamos em cidades diferentes, mas tenho toda certeza que eu sou o grande amor da vida dele e ele da minha.

Anônimo disse...

"no topo da cadeia alimentar" foi fantástico! :ó)

Marissa Rangel-Biddle disse...

Olha, eu acho que para o casamento aberto dar certo, tem de se levar em consideração a geografia da cidade. Rio de Janeiro, por exemplo, a geografia ajuda vc manter os peguetes aqui e ali e eles nunca se encontrarem. Eu só penso na saia justa que deve ser ter marido e amantes no mesmo espaço.

Goiânia não é uma boa cidade pra se tentar o casamento aberto.

Eu faria a Marieta numa boa se o marido me propor casamento aberto. Não dá, né. Não nessa altura da vida.

Anônimo disse...

a maioria dos maridos tem casamentos abertos (sem a mulher saber é claro )desde de o namoro ate o casamento a infidelidade estar presente em algum desses !!!! francamente acreditar que nunca foi traida é ser iludida, meus pais dormem em quartos separados e meus sogros tambem isso é mais comum do que parece ( manter as aparencis nao sei se vale apena ) ela tem que se separar e tentar arrumar outra pessoa!!!

cris disse...

Hahahahaha, adorei. Eu acho que as pessoas ficam casadas pelos mais variados motivos. E acho também que podem existir modelos diferentes de casamento. Eu já conheci alguns casais que tentam/tentaram com mais ou menos sucesso um modelo alternativo. Claro que eles enfrentam dificuldades - mas quem disse que casamento fechado é garantia de alguma coisa? Resta saber com qual tipo de dificuldade se quer lidar e isso depende do temperamento de cada um. Já vi casais que apostaram as fichas no modelo + ou - aberto e aprenderam muito. Agora tem uma coisa: nesse caso aí é claro que ele está tirando partido da fragilidade dela. Mulher nessa situação se sente coagida a aceitar tudo, mesmo tipo de coisa quando o maridão cinquentão propõe começar a fazer swing, por exemplo. A mulherada embarca pra manter o casamento. Pra mim isso é triste, mas cada um sabe o tamanho da pedra que aguenta no sapato. Dito isso, concordo com você que numa mudança de acordo ambas as partes precisam participar da decisão. Do contrário fica só a sensação de que se está fazendo algo muito moderninho, o que só é conseguido às custas do sofrimento profundo do outro. Bjs!