quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Day 20: The last book you read




Não sou do tipo que bate no peito pra dizer "sou jornalista" como quem ganhou uma medalha em vez de diploma. Mas se há algo de que me orgulho do curso universitário, além de ter sido público e gratuito, foi ter sido aluna do Cristóvão Tezza, quando seus livros já faziam algum sucesso e sua obra, ainda pequena, era indicada para prêmios de literatura - não só por isso, mas também por ter sido o melhor professor de redação que poderia haver. "O Filho Eterno" traz um texto denso, angustiado, sincero, acompanhando a vida do pai escritor de um filho com síndrome de Down, nos anos 1980. Autobiografia em terceira pessoa, o livro não cai na autopiedade, nem muito menos em lições de humanidade: Cristóvão se expõe com uma autocrítica impiedosa sobre si como o pai abnegado de um filho limitado, quase num paralelo com sua carreira que, acreditou por algum tempo, seria igualmente limitada e fadada ao fracasso. Um livro difícil e genial, daqueles que a gente pousa no colo e dá um tempo para retomar o fôlego.

E então, finalmente, os olhos se deslocam do chão para o alto, e lá estão as mulheres - apenas mulheres - que fazem aquela máquina girar. Há mães, tias, avós, empregadas domésticas, ele calcula, percorrendo os rostos, que trazem seus lesados para as horas de fisioterapia. São fisionomias a um tempo pacientes e tensas - ele apreendeu ali, pela primeira vez, a síndrome dos pais com filho lesado: essa marca no rosto, uma camada subcutânea de tensão, o olhar agudo, aflito e incompleto, sempre com a sombra de uma justificativa na ponta da língua, que às vezes (no início) se derrama num desespero rapidamente controlado, porque a civilização é poderosa. Não podemos agarrar as pessoas para sacudi-las com força, para que nos olhem. Depois, pouco a pouco, assimila-se a consciência discreta de quem está definitivamente do lado de fora da vida, e o resto se resolve em detalhes práticos - o mundo tem só dez metros de diâmetro. É aqui que nos movemos.

6 comentários:

Bia Badaud disse...

Tenho um sobrinho excepcional. Realmente a forma como seu ex professor escreve é impressionantemente precisa. Chega a doer. Embora minhas convicções espiritualistas me ajudem a acrescentar outros possíveis ângulos a esta vivência, mesmo assim. Dói ver um texto transformado em espelho, desse jeito.

Raiza disse...

Meu priminho é pne e nossa,como me identifiquei com esse texto.E vi minha tia,minha mãe,meu tio.Só por essa passagem já posso ver que é um livro que vale a pena.

Anônimo disse...

Eu também adorei o livro. É muita sinceridade, muito sofrimento e sempre muito bem escrito. Vale a pena ler!
=)

Verônica disse...

fiquei com vontade de lê-lo. =D

Suzana Elvas disse...

AAAAAAAAhhhhhhh, você foi aluna do meu tezzão literário!
Tô de mal até a morte!
[póf, morry de inveja. Verdinha]

Tina Lopes disse...

Bia, gosto muito quando ele fala do olhar dos pais de crianças especiais.

Raiza, Vê, o livro vale demais a pena. É muito mais do que isso que comentei.

Su, eu já tinha te contado priscas eras atrás, hahahah, vc deletou da sua mente de tanta inveja! =D