domingo, 8 de abril de 2012

Fim da brincadeira

Levei a Nina para a pediatra, semana passada, para a consulta anual de praxe. A médica que a atende é do meu time - rigorosa, direta, não me chama de mãezinha, não atrasa o horário da consulta e é tremendamente atenta. Examina aqui e ali, praticamente a mesma coisa desde bebezinha - coração, olhos, barriga, língua, ouvidos; pensei que a única novidade tivesse sido medir a pressão. Mas não. Ao sentar para me passar as novas vacinas e receitas adequadas ao novo peso, a Dra. observou - e me deu um susto: "eu sei que tipo de mãe você é, e continue assim, porque está dando certo: ela não tem nem sinal de puberdade precoce". Quase caí da cadeira porque eu nem cogitava falar em puberdade na consulta de uma criança de sete anos. "Tenho pacientes meninas que chegam aqui de saltinho, maquiagem, com a puberdade adiantada. Sabe por quê? São adultizadas, sexualizadas. Há estudos sobre isso e eu tenho certeza de que o comportamento social está influenciando o biológico. Daí eu tenho que receitar medicamento pesado para manter o crescimento". Sim, há os hormônios, a alimentação e tudo o mais, lembramos. Mas o alerta dela foi o seguinte: "mantenha a criança longe da televisão, da programação de adultos, não deixe que se ache e se comporte feito mocinha". Não se trata de moralismo. Criança não tem que ver novela, Faustão, sair rebolando feito dançarina de palco, não tem que ouvir conversa de adulto, se vestir ou querer consumir feito adulta. Não sou eu que estou dizendo. Não são as moralistas, nem as feministas, nem as recalcadas. Ou melhor, somos nós todas, sim. E mais a Medicina.

12 comentários:

Rita disse...

Ah, obrigada pelo post, Tina. Mesmo. Vou linkar à vontade porque concordo muitíssimo com as dua: você e a pediatra.


Beijos!
Rita

Caminhante disse...

Me dá um calafrio imaginar a Nina desse jeito.

Anônimo disse...

A filha de uma funcionária tem 8 anos e está com a puberdade batendo à porta. A médica alertou que pode ficar 'mocinha' nos próximos meses. Tadinha.
=/

fal disse...

um destes estudos era do meu pai :o)

Deise Luz disse...

Tenho uma sobrinha de nove meses e volta e meia sinto calafrios com certos comentários que a avó (minha mãe) faz. Comentários sobre maquiagem, consumismo, os futuros namorados etc. Detesto essas coisas e, no que depender de mim, ninguém vai induzi-la a esse comportamento adulto. Vou até divulgar esse seu post aqui em casa.

Leleca disse...

Eu conheço uma menina de 4 anos que, antes de sair pra escola, tem que passar maquiagem. E se você disser que não dá tempo, ela responde "ah, pelo menos um batonzinho!". E vai lá passar um brilhinho.

banzai disse...

Tina, já li textos sobre a puberdade adiantada, é bem isso mesmo, trabalhei com educação infantil em escolas brasileiras daqui e olha a coisa é feia. O nosso mundo hoje é muito atrapalhado, super complicado mesmo, de uma lado crianças que se comportam, se vestem e falam e são tratados como se fossem adultos. E por outro lado, adultos que se comportam, se vestem, falam e são tratados como se fossem criançinhas. Será heim, que os pais tem consciência do quanto influenciam os filhos na construção de sua identidade? tipo vou ser bem radical, exemplo, furar a orelha do bebê, sem se darem conta começa aí o ritual de beleza que deverão fazer parte de sua vida. Outro exemplo, pais brasileiros que moram aqui, ao contrário de japas, são ansiosos para que que seus filhos com menos de 6 anos começem a escrever, a ler em detrimento ao brincar livremente. E outros trilhões de coisas. Temos que reinventar o lugar da infância, e a mídia não é gde vilã não, mais perniciosa que a presença da televisão é a ausência dos pais. Esse assunto pra mim é fundamental, necessário, vai longe.
bjs
madoka

Graziela disse...

Tina parabens por permitir que a Nina tenha um ambiente de crianca, como crianca que ela e' e como deve ser.
Vou compartilhar esse post, porque ando vendo cada coisa por ai, que me da medo... serio. O video daquela menina fazendo tutorial de maquiagem nao me deixa sossegada... nao so' pela brincadeira de se "maquear"... tem tanta coisa por tras.
Abracos e desculpa tantas ... sei que vc nao gosta.
Gra
* espero que tenham passado bem a Pascoa!

Cristiane Rangel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patricia Scarpin disse...

Conheço alguém que precisaria urgentemente ler esse post. Mas do jeito que é provavelmente não entenderia necas.

Parabéns, Tina. You rock, girl.
xx

K disse...

Oi Tina !
Quando meus dois filhos eram bebês, não podiamos pagar tv a cabo então optamos por não ter tv em casa.Eles tinham uma tv velha, sem antena que so funcionava para ver dvds.
Minha filha tem 12 anos e meio e ainda não menstruou . Ano passado, ao ouvir comentarios das mães de amigas mais novas dela, decidi perguntar a minha filha se ela sabia como o homem fazia para que o espermatozoide chegasse até a mulher. Sabe o que ela respondeu? -Poe no copo e a mulher bebe, uai!

Liliana disse...

Adorei!