Pick-up

Êba. Minha tia do interior, a mais querida, fofa e gostosa, ligou pra perguntar se eu quero o velho toca-discos dela. Só se for agora, claro. E de lambuja, vou ganhar os LPs antigos da família. Baita expectativa. Meu primo traz o aparelho depois do Carnaval, quando voltar da visita ao interior. Será que virão os LPs do Frank Sinatra, que ficaram comigo quando minha prima foi morar no convento (ela pegou de volta quando saiu, claro)? Os do Chico. Minha prima era uma chicólatra louca assumida. E ainda aqueles da Elis, do Gil, da Betânia, com capas lindas feitas pelo Elias, ou Elifas, Andreato. Preciso lembrar de nunca deixar a Elis e a Betânia juntas - elas se detestavam. Meus primos também tinham uns LPs de samba e de novelas ótimos - no tempo em que as trilhas de novela eram feitas por encomenda pro Chico, pro Tom: Brilhante, O Astro etc. Não lembro de ter ouvido rock na casa da minha tia. Mas já tá de bom tamanho, não é? E ainda vou poder escutar de novo os meus LPs que estão encostados, esperando dias melhores, ao lado do tocador de CDs. Tem do Rock in Rio, frustração da minha vida (nunca fiquei tão infeliz na frente da televisão. Queen, AC/DC, e eu lá na minha cidadezinha poeirenta e fedida). Meus LPs são basicamente de MPB. Tem até Lulu Santos, mas foi presente. E ainda guardo o meu primeiro LP, um do Boca Livre. Quem tem a viola pra se acompanhar, não vive sozinho, nem pode penar.