sexta-feira, 15 de maio de 2009

Um caso triste

Tem a ver com o que a Nina disse no post abaixo - pessoas más têm filhos. O inverso também acontece. Tem um casal aí que conhecemos. Pessoas, honestas, interessantes, divertidas, bem-resolvidas etc. São também classe média alta (diria até classe AAA). O cara é o último de sua família. Não tem mais pais, tios, primos, nada que possa chamar de "próprio sangue". Daí que eles não podem ter filhos. Não sei quais são os impedimentos físico-biológicos, não vem ao caso e não temos intimidade pra perguntar. Daí o que se faz? Adota-se.
Então, uns dias atrás o cara ligou feliz contando que tinha sido chamado para adotar uma criança recém-nascida. Eles nem têm essa exigência, de ser recém-nascido, acho que botaram um limite de idade pra adoção tipo de "até" 3 ou 5 anos, não sei. Enfim. Não vou fazer o papelão de um jornal daqui que fez uma matéria de dedos em riste às preferências dos casais que adotam - bem, pelo menos eles adotam, né?
Isso é outro papo.
Mas o caso é que foram chamados; a criança, com um dia de vida, lhes foi entregue. Viajaram (o processo correu em outro estado), adotaram, assinaram papelada, deram nome pra criança, choraram, se emocionaram, fizeram planos, incluíram o bebê em seus planos futuros.
A mulher que passou a se considerar mãe, vou te contar, é daquelas que se emocionam com fotos de crianças dos outros em celular. Daquelas que gostam de ouvir histórias sobre filhos. É uma mãe nata, a quem só faltava um bebê.
Daí que dois dias atrás a tia-avó real da criança exigiu que ela fosse devolvida. Porque a mãe não teria avisado a família que estava grávida, nem que iria encaminhar pra adoção e tals, e agora a família quer a criança e pronto.
O que aconteceu? Tiveram que devolver o bebê.
Não é um horror? E pior, um horror desnecessário. E culpa de quem? me desculpem agora, mas a culpa é DO ESTADO. Pra mim, faltou seriedade no processo. Pô, o casal não exige recém-nascido, mas se você entrega um recém-nascido, eles vão adorar, claro. Certamente há outras centenas, pelo menos, de crianças de até 3 ou 5 anos sofrendo nessa fila. Pra essas, o processo é enrolado. Não entendo.
E tem outra coisa. A família da mãe está certíssima. Como assim pegam um bebê de um dia e já entregam? A mãe tem direito a se arrepender. Devia existir uma "quarentena" para que caia a ficha da pessoa; que a família seja informada, se planeje. A entrega pode ser um ato de desespero. Sem contar a depressão pós-parto. Não é porque é pobre que vai ser sempre ótimo lindo maravilhoso entregar o filho prum casal rico. Imagina se uma irmã desmiolada - uma espécie de Juno *, só que real - fica grávida e decide dar o filho. Pô, meu sobrinho por aí, na mão de quem eu não conheço? Eu mesma me ofereceria pra criar. Sério.
Culpa do ESTADO por não oferecer segurança pra nenhum dos lados dessa história. Por ter uma equipe incompetente pra tratar do processo de adoção. Por fazer uma lambança dessas com a vida dos outros. E nisso tudo pode ter traumatizado um casal bacana, que pode até não querer mais adotar. Porque convenhamos, que sofrimento.
*Acho Juno uma bosta de filme anti-aborto. A melhor crítica é da Lola.

5 comentários:

Anne disse...

Nem consigo imaginar a tristeza desse casal. Sem sombra de dúvida a culpa é do Estado. Não se pode permitir adoção tão rápida.
Uma época fazia trabalho voluntário na Acridas e eles tem um projeto interessante lá pra acolher crianças rejeitadas pelos pais, ou que o Conselho Tutelar tem que retirar da guarda dos pais. São as famílias temporárias pras crianças maiores de três anos, pras menores é um berçário. Fiquei trabalhando lá quase um ano e as adoções que ocorriam por lá não eram tão rápidas assim não. Teve um casal que tinha adotado três irmãos, que foram para os EUA. O juiz do caso pediu a cada 6 meses nos 2 primeiros anos avaliação (fotos das crianças, da casa, da escola). Gostei.
=^.^=

Suzana Elvas disse...

Tina, eu adoraria ter mais filhos - nem que fosse como barriga de aluguel. Já pensei seriamente em doar meu útero para casais que podem ter um embrião mas a mulher não consegue sustentar uma gravidez. Mas nem imagino como fazer isso - nem mesmo se é legal.
Bjs

Tina Lopes disse...

Anne, eles tão tratando como se fosse uma morte. Tadinhos.

Su, que desprendimento! Eu nunca faria isso de aluguel, primeiro porque achei um saco ficar grávida. Sobre como fazer, acho que se vc consultasse informalmente uma clínica de fertilização iria chover gente pedindo esse "favor" pra você. Inclusive soube ontem de um casal no Mato Grosso que aparentemente usou barriga de aluguel, mas diz que a criança foi adotada. Bem, eu adotaria. Quem sabe um dia.

Patricia Scarpin disse...

Uma prima queridíssima minha (é como minha irmã) que estava vendo como tudo funciona para adotar duas crianças (de uma vez, irmãos). O processo é bem demorado - tanto que no meio da coisa toda ela acabou engravidando.

Fiquei arrasada com a história do casal, que tristeza.

Tina Lopes disse...

Acho tão lindo quem quer adotar irmãos.