quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma

Ok, devo admitir que sempre tive motivos pra achar desnecessário o diploma de jornalista. Primeiro por uma questáo pessoal: náo aprendi rigorosamente nada na faculdade, relacionado à profissáo. Náo é exagero. Tudo o que me influenciou a ser a profissional que eu sou veio da grade de Humanas - as aulas de Antropologia, Sociologia, Filosofia (que eu matei muito) e principalmente, de Letras, especialmente, as aulas do maravilhoso e justamente incensado Cristóváo Tezza.
(Porém - tenho que fazer esse adendo - sei que há cursos por aí muito bons que ensinam tudo o que eu deveria ter aprendido na Federal.)
A convivência com os alunos dos cursos de Humanas também foi fundamental pro tal do "aprendizado pra vida".
Tem outra coisa: sáo poucos os países que exigem diploma de jornalista. Náo sei quantos sáo, náo tenho dados porque nunca fui de sindicato. Mas sei que sáo poucos porque os poucos estrangeiros que conheci sempre comentaram "uai, mas tem que ter diploma? no meu país náo". Isso vindo de africanos, canadenses, americanos, argentinos etc.
Bem. Agora caiu a exigência do diploma de jornalista. Finalmente estamos todos da Comunicaçáo Social nivelados - publicitários e relaçóes públicas agora náo sáo mais seres inferiores, hahahah.
Mas daí ontem estava assistindo o jogáo do Corinthians (2x0 contra Inter, uhu) e fui ficando no quentinho do sofá com a Nina babando no colo, tomando meu vinho, sem querer acabei vendo o Jornal da Globo. Coisa que náo fazia há tempos, desde que o William Waack voltou pra ex-mulher.
E a questáo do diploma vem embalada assim:
"Acabou a obrigatoriedade do diploma, um resquício da ditadura" - e o Evaldo Pereira, cuja atuaçáo puxa-saquista em Brasília me dá engulhos, entrevista o dignérrimo Gilmar Mendes sobre o fim da obrigatoriedade: "É o fim do cerceamento da opiniáo, agora todo mundo pode dar opiniáo nos meios de comunicaçáo".
E, ora ora. Náo bastasse o cara dar entrevista andando, ainda me comete essa. E o outro continua lá, subserviente, andandinho com seu microfone e seu crachá de Bozó.
Fala sério, né gente. Uma coisa que me irrita nessa história toda é a confusáo entre jornalista e articulista. Articulista - o Zé Simáo, Clóvis Rossi, Jânio de Freitas (deuses), Barbara Gancia, Rui Castro, José Sarney, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Marina da Silva, Juca Kfouri, Tostáo, sei lá mais quem - pode ser o que for. Eles sáo pagos pra dar opiniáo. E quem banca a opiniáo deles, depois, juridicamente se for preciso, é o dono do jornal.
Jornalista "formado" ganha milequinhento por mês pra fazer ronda em delegacia de polícia; pra decifrar Diário Oficial; pra cumprir dez pautas por dia, do buraco de rua à última do governador.
Náo me venham dizer que jornalista dá opiniáo. Náo dá, náo. Dá fatos. Quem dá opiniáo sáo os articulistas contratados de acordo com o interesse do dono do veículo. Jornalista muitas vezes - quase todo dia - tem que engolir a própria opiniáo e privilegiar as obras e interesses do amigo do dono do jornal, seja ele o presidente, o governador ou o prefeito.
Sem contar os interesses comerciais, dos anunciantes.
Entáo náo me venham com desculpas travestidas de democracia. O STF quis uma vendetta contra a categoria e ponto. Náo está criando liberdade pra nada, mesmo porque os jornais de papel estáo morrendo e o futuro está aqui, nos blogs e twitters e o que mais for inventado nas próximas duas horas.
Dito tudo isso, quero deixar registrada minha disponibilidade para participar de movimentos para o fim da obrigatoriedade do diploma de advogado. Porque já tive que pagar 10% pra esses profissionais completarem petiçòes prontas da internet. E o Brasil ainda é um dos poucos países em que o réu náo pode se defender sozinho.
Estou estudando ainda aderir a um movimento pelo fim do diploma pra fisioterapeutas, porque sou boa de massagem. E de nutricionista, porque no Google eu consigo todos as informaçóes necessárias sobre alimentaçáo.
(Esses dois parágrafos foram ironia, ok? brincadeirinha)
Mas finalmente quero deixar claro que eu náo devia ter escrito nada disso porque deixei de ser jornalista faz tempo e virei assessora de imprensa. E pra isso uma formaçáo em secretariado executivo seria mais útil.
Update (agora no pc que tem til) - Acho que não deixei suficientemente claro no texto que estou PUTA com a forma como tudo foi feito, como se o STF e o Gilmar Mendes estivessem fazendo algo BOM para o país, a cidadania e o escambau. Soy originalmente contra o diploma mas de repente transformaram os jornalistas em vilões contra a Verdade e a Justiça (não aqui no bloguitcho) – quando é o contrário, senão não haveria tanto protesto de corrupto contra a imprensa. Menas, gente. Se a gritaria toda diminuir vai dar pra ouvir o espocar dos champagnes dos empresários.

16 comentários:

Srta.T disse...

Ai Tina, fez isso com os adevogados não... o problema é o excesso de faculdade, sendo que muitas tão nem aí pra formação do profissional. Conheci bacharel (já que pra ser advogado precisa de OAB) que não sabia diferenciar o autor do réu de um processo. Olha isso.
Eu fico tentada a dizer que o certo seria acabar com a obrigatoriedade da OAB, cara pra burro, mas não dá: por pior que seja, ela é a última defesa da população contra os profissionais ruins que são jogados no mercado. O carinha que eu citei, graças, não passou na OAB. Então não pode advogar. Imagina se pudesse?
Quanto aos modelos de petição na internet: admito que uso, e uso bastante. Mas é o formato, só. Porque a tese nós temos que desenvolver, pesquisar doutrina e jurisprudência, fundamentar o pedido do autor bem direitinho. Tem um monte de detalhezinhos chato, mas que não podem passar. E ainda, mesmo fazendo um ótimo trabalho, podemos perder. Claro que tem muito profissional ruim no mercado, ô. Mas quem faz um trabalho sério não pode ser responsabilizado pelas cagadas dos outros.
E concordo contigo: há muita confusão do pessoal quanto a função do jornalista e do articulista. E se jornal tal tem uns articulistas da posição X, acham que o jornal é X. Não é assim.
Enfim, tendo a achar que essa medida foi errada, mandou mal. Mas ainda não li o suficiente sobre o assunto pra me definir (e mesmo assim escrevi pra cacete, hein? Prolixa é a vó).

Tina Lopes disse...

T, darling, eu fiz o parêntese "brincadeirinha" pensando em você... rsrsrs. E agora Inês, tadinha, sifu, nem tem muito mais o que discutir, né?

Srta.T disse...

Ai, a jumenta aqui leu "exemplo" onde deveria ter lido "parágrafo"... aí achei que a brincadeira tinha a ver só com os fisioterapeutas e nutricionistas. Me ignore, por favor. =P

cris disse...

olha, essa é uma realidade com a qual eu já convivo há muito tempo. porque pra ser professor de inglês não precisa ter diploma, todo mundo sabe disso. é só você trabalhar de vendedor em miami que já pode voltar pro brasil e até abrir sua franquia de cursinho de inglês. aliás, as faculdadees particulares estão acabando com os cursos de letras por isso mesmo. vou ser mais radical ainda: pra ser professor nem precisa de diploma você vai em qualquer escola particular e tem eng. químico dando aula, engenheiro dando aula, a tal criatura que trabalhou de vendedora em miami dando aula e mais uma meia dúzia. aí restam poucas opções pra quem é professor de verdade. as federais e mais meia dúzia de colégios particulares caríssimos, onde arrancam o teu couro. tenho escutado muito dos dois lados; de quem é contra e de quem é a favor de diploma e - confesso - ainda tô sem saber pra onde ir. mas lendo o que tu escreveu acho tudo de uma coerência absurda. bjs!

Cris Brunetti disse...

matou a cobra e mostrou o pau tina.
amei o post.
sou radialista e digo o mesmo com a minha profissão. sou formada em rtv e trabalho em uma produtora e nem todos aqui tem diploma, o que vale mesmo é a experiencia adquirida.
parabens

Unknown disse...

Isso mesmo Ina.. vamos jogar o biodiesel nos outros e acendero fosforo. Na minha profissao de tecnologia de informacao tb nao precisa de diploma, mas 99% das empresa querem diploma. Fazer o quê?
Bjos.. Ah.. como exemplo de jornalista sem diploma temos a Lola..

Tina Lopes disse...

Asnalfa, a Lola faz crítica, não jornalismo; ela nunca precisaria de diploma pra ter os textos publicados.

Tina Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rubão disse...

Colega Tinovsky, onde é que eu assino?

Subscrevo tudo.

Só cursei jornalismo na UFMG porque eu já fazia bicos na área. Nunca tive saco pra reportagem.

Se o curso não serviu muito (2 anos de duração, matérias eliminadas na publicidade), o registro profissional menos ainda.

Haline disse...

Adorei o post bem humorado. Concordo em gênero, número e grau.

Suzana Elvas disse...

Tina, minha amiga, desculpe não falar absolutamente nada sobre o post em questão porque eu ainda estou tonta - você foi aluna do Tezza? O meu tezzão literário???

Os anos em que ele foi autor da editora em que eu trabalhava foram absolutamente inesquecíveis. Lembro-me de quando ele lançou "Entre a Prosa e a Poesia: Bakhtin e o formalismo russo". O Prosa & Verso ia dar contracapa com ele e mandei, na sexta, a print do jornal de sábado. Mandei e nada. E fiquei chateada. E então decidi ligar. Quem atendeu foi a filha dele, que disse que ele tinha pregado a prova de página na porta de casa e que tinha ido à rua comprar cerveja - o acontecimento merecia um churrasco!

Menina, morri de inveja. E ainda vou ter que viver com isso!

Tina Lopes disse...

Fui sim Su, e por sorte minha memória seletiva lembra de muito das aulas dele, as melhores ever ever da minha vida.

Priscilla disse...

Olá Tina, leio você na Lola e na Mary W. Agora deu vontade de conhecer o teu blog, e aqui estou. Concordo com vc e com a Mary W sobre este assunto, mas o mais importante para mim, é que vocês duas não se deixam levar por climas de festividades que cercam alguns fatos, como a decisão que pôs um fim na obrigatoriedade do diploma. Acho que o Idelber e a maioria que escreve lá tem um exagero em olhar demais um só lado da questão e em começar a comemorar "vitórias", deixando na sombra um monte de coisa importante que tem que ser levada em consideração. Gosto muito de ler o Idelber, mas sempre preciso de outros blogs para jogar luz no que o Biscoito e a galera que concorda com ele sem pestanejar insiste em deixar no escuro. É muito bom quando vejo gente de peso emitindo opinião discordante. Acho tão saudável essa convivência de opiniões diferentes. Acho que ter ou não a razão acaba sendo menos importante que a pluraridade das análises e dos argumentos. Eu acho muito muito difícil discordar em blogs, sobretudo quando o peso do comentarista (eu) é zero. Quis muito escrever no blog no Idelber sobre o assunto, mas já vi que era um suicídio, (socorro, que eu amo a vida). Tenho lido O Biscoito com certa assiduidade, adoro e respeito, mas vivo fuçando na net para ver se há quem pense diferente. E há. Assim foi que descobri a mary w, porque vira e mexe ela põe um comentário na caixa do Biscoito que não concorda com o Idelber, e também escreve posts mostrando opinião e argumentos diferentes. E ela sobrevive, porque bem, também tem peso. Agora vou começar a acompanhar teu blog também. Desculpe o tom de desabafo, mas é que o assunto de discordar em ambiente hostil, como o Idelber mesmo escreveu, me dá medo. Aí me sinto aliviada quando vejo que não há pensamento único. Um abraço.

Sócio disse...

Sócia, mandou ver! A Pupo e Lopes assina embaixo!! E eu, que "virei" fotógrafo, já deletei meu diploma faz tempo...

Tina Lopes disse...

Priscilla, alguns blogs, como o da Lola e o da Mary W. conseguem oferecer "debate" de verdade. Em outros isso não é possível e eu economizo a minha pessoinha, já de idade, de certos aborrecimentos. E tem um tipo de pessoa que eu não aguento, que é gente convicta demais. Eu não tenho certeza de nada, esse post aqui era pra dizer uma coisa e acabou dizendo outra. Enfim, venha e fique à vontade. Se não for pra falar mal do Woody Allen ou do Javier Bardem. :))))


Sócio, espertinho, e pensar que eu podia tá nessa faz tempo, hein. Antes de vc. Mas fiquei lá na fase da K-1000. :((( Por isso é que a parte Lopes da empresa fatura menos...

lola aronovich disse...

Opa, vi que meu nome foi citado aqui várias vezes. Olha, é verdade: só porque escrevo pra jornal volta e meio ouço gente me chamando de "jornalista". E não sou, nem nunca fui, jornalista! Eu sou colunista, aliás, colaboradora, do jornal. Vc falou muito bem, Tina, o que eu faço não é jornalismo. Jornalismo é bem outra coisa. Gostei muito do seu post. Eu sou contra a obrigatoriedade de QUALQUER diploma, eu acho, mas esse é outro assunto, ainda mais polêmico. Então fico feliz que a obrigatoriedade do diploma de jornalismo foi derrubado. Porém, quando vejo a Globo comemorando, fico muito preocupada, e penso se minha opinião está correta. Abração! (e morri de rir com o "professor fofo" aí de cima!).