Acho que estou sendo repetitiva, mas não achei na busca nem desse, nem do blog anterior, então liga a tecla déjà vu pra histórias nada exemplares de professoras doidas. Antes devo dizer que minha melhor professora foi a de primeira série, que me alfabetizou, e que era minha madrinha. A da segunda série também foi ok, mas não gostava dos meus desenhos. Uma vez disse que eu não tinha imaginação porque pintei uma flor com cores reais demais. E olha que passei horas fazendo o degradê do roxo interno para um azul nas pétalas.
Enfim.
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Não sei se é só na minha cidade natal, que é horrorosa e tem uma fumaça fedida de fábrica de papel (ops, aliterei), ou se era a pílula com excesso de hormônio dos anos 70, mas as professoras da rede pública aparentavam ser 20 anos mais velhas, todas. E suspiravam deixando bem claro o ódio que tinham pelo ofício e pelos alunos, menos os mais bonitos e com algum dinheiro – tinha de vez em quando uns filhotes burgueses no meio da gentalha, e quando era assim, eram eles que entregavam as rosas pro governador, eram as Sinhazinhas e Noivas das festas caipiras. Saca, né.
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Gente, havia exceções, claro! A maioria da minha família, claro, hahahaah. Porque as mulheres se não eram donas-de-casa, eram professoras, e os homens trabalhavam na fábrica. Então. Havia exceções, mas poucas foram minhas professoras.
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Continuando. A Dona (nem pensar chamar de tia) S. da terceira série era meio preguiçosa, vivia reclamando. Torceu pro Ronald Reagan ganhar a eleição americana e não sei por que diabos essa informação ficou na minha cabeça. Um belo dia, eu atrasada copiando a tarefa no quadro, o sol batia no meu rosto, ela me mandou continuar olhando pra frente. Daí chamou o Geraldo, coleguinha por quem eu era apaixonada.
- Geraldo, olha a Cristina, ela tá vesga ou não tá?
- Hmmm, tá sim fessora.
- Turma, venham ver se a Cristina tá vesga. Cristina, olha pra frente, que depois vou falar com a tua mãe pra te levar no médico e te botar um óculos.
Fui a atração freak da semana. E no fim ela estava certa, e era estrábica. Ganhei uns lindos óculos de armação mezzo dourada mezzo imitação de tartaruga.
Essa gostava de me expor pra turma. Eu era a melhor aluna de redação, fato. Daí surge um concurso estadual de redação; o prêmio era em dinheiro pra criança e pra professora, além de uma viagem pra capitár pra conhecer o governador. Só que eu era lerda pra escrever. A professora me mandou caprichar e disse que botava fé na minha redação. Que tinha um tema bem chato, claro, algo como o futuro do Brasil. Não consegui terminar até a hora do recreio. “Então fica todo mundo na sala de aula enquanto a Cristina não termina a redação”. Segurou o pessoal uns dois minutos, foi só pra me meter medo. Ficou na sala comigo, pressionando – capricha que eu quero ganhar! Quando acabei, a redação era uma bosta e ela deixou isso bem claro. “Que decepção”. Mandou a do Geraldo pro concurso, só. Mas ele também não ganhou.
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Dona I., um post à parte, praticamente
Na 4ª série veio a louca-mor. Trauma da minha infância, a professora que me odiou desde o primeiro dia de aula. Ou antes, quando soube que eu seria sua aluna, porque ela não gostava da minha mãe.
Dona I., que o diabo a carregue, fez uma revisão de matemática na primeira aula e escreveu “Exemplo” no quadro (sei que já contei porque o Ivan me chamou de pentelha num coment). Eu perguntei – professora, mas a senhora fala exempro e escreve exemplo, qual é o certo?
Sifudi, claro.
Dona I. mandou, durante a 3ª série, a turma fazer duas vezes a mesma redação: “Imagine que você morreu e está vendo seu próprio velório”.
Dona I. ficava sentada ao lado da porta com um ventiladorzinho virando em sua direção, nos dias mais quentes. Os alunos tinham que ir até sua mesa para ter os exercícios corrigidos, tirar as dúvidas etc. Uma vez eu derrubei e quebrei o maldito ventilador. Ela ficou puta da vida. Contei pra mãe, que garantiu que compraria outro, ela disse que não, não precisava, ia se ofender se fizesse isso. Daí um dia eu faltei aula e o Geraldo – aquele que eu gostava – me contou que ela passou o dia falando mal da minha mãe, que teria prometido um ventilador e não deu.
Dona I. era uma psicopata. Num dia de temporal, ela abriu as cortinas e ao ver a escuridão da tempestade, às 3 da tarde, disse pra turminha que era o Dia do Juízo Final e que iríamos todos morrer, longe dos pais. Como minha mãe já tinha comentado que cairia um toró, que não era pra eu ter medo e tal, fiquei esperta (o Geraldo também) e não dei muita bola. Ela desenhou um Jesus Cristo no quadro e uma menininhas ajoelharam. E rezaram, claro. Fui ao banheiro e vi que em todas as outras salas as aulas transcorriam normalmente.
Uma vez ela pegou uma cobra de borracha e jogou no corredor. Me mandou ir à cantina buscar “uma coisa”. O quê? “Uma coisa”. Fiquei desconfiada, e só por isso não dei um piti quando vi a cobra. Passei longe dela. Daí a Dona I. me chamou. “Volta, Cristina, com você não tem graça”. E foi chamar a Patrícia, a menina mais delicada da turma, pra dar o vexame.
Outra que já contei em algum boteco virtual por aí: única vez na vida que tive coragem de assumir uma paixão foi quando pedi pra Dona I. que me deixasse ser par do Geraldo na festa caipira. Fui ousada. O que ela fez? Chamou o menino que era o meu par e disse que eu não queria dançar com ele porque eu era racista – ele era negro, obviamente.
Ela desenhava bem. Uma vez a encontrei na rua, com uma amiga, e ela me elogiou, me chamou de inteligente.
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Eu poderia continuar até a faculdade, mas não lembro de muita coisa desse período. ;)
12 comentários:
Muito engraçado, Tininha! Viu só? Essas coisas não dá pra fazer no Twitter. Bom, eu não tive um décimo das professoras-pesadelos que vc teve, mas vc me inspirou: algum dia eu escrevo sobre algumas das minhas (tá vago, né? Algum dia, algumas...). Mas que fixação pelo Geraldo, Tina! Não era o Alckmin, espero!
Caraca!! Adoro escrever sobre meus traumas escolares, mas vc ganhou de longe!!
já tive uma professora que me odiava, e eu só tinha 8 anos... vai entender...
Lolitcha, na verdade eu fiz uns tweets sobre elas - dois hoje, outro da história da tempestade, algum tempo atrás. Ficaram legais, o interessante é o exercício de contar as histórias lá e cá. E o BI? Primeirona no blog, amanhã, hein.
L., eu fui sorteada, aparentemente.
Cin, ora, você era a Garota do Tang! IN-VE-JA, claro.
Ah, Lola, deusolivre, o meu Geraldo era um chuchuzinho, não um picolé de chuchu!
Chocado!! Nao com as historias, mas por saber que seu nome verdaddeiro é Cristina!!!
Sempre pensei que fosse Tina. Serio!!
Aqui no Brasil, professor aprende doutrinação e nao maneiras de ensinar um aluno. Por isso nao vamos pra frente.
Amei o post mesmo! Muito engraçado! Faz a parte 2.
hAUIHIAuhauiHAIUHAIUHAUI, meu Deus, sua professora era doidona, adorei! (adorei pq naum foi comigo,obviamente...sempre fui dessas q morria de medo de professor...hAUIHAuihaI)
Asn, eu queria muito q fosse Tina. E não culpe os professores, veja só, eu até que não me saí mal. Além disso, era plena ditadura, eu sou véia, umas pragas dessas hoje não dariam aulas. Acho.
Flávia, era louca de ruim, isso sim.
Ainda bem que vc passou incólume por essas doidas varridas. Tem cada uma né? rs
Vai saber nesse mundão de Deus, não tenham uma loucas assim nas salas de aulas da vida? cruzes.
algumas ´tias´ deveriam ter ok de psiquiatras para entrar em salas de aula viu...rs.
bjs
madoka
Post ótimo! mas também tive as jararacas da vida. Começa com a Selma, 1º ano, deixou eu fazer xixi na calcinha. Irmã Erminda, essa deve estar queimando no mármore do inferno, quebrou meu trabalhou de artes na frente dos colegas. Eu tinha 10 anos. Clóvis, de Matemática, promovi abaixo-assinado, sabia tudo, menos Matemática.
Ademir (esse já está noutra dimensão), fanfarrão da faculdade de Jornalismo.
ah, você foi sorteada. eu não lembro dos professores traumáticos [nem tive nenhum como esses aí] só lembro dos legais. ;)
[mas eu lembro das malas da universidade. algumas das quais ainda estavam lá quando eu virei substituta. ou seja, éramos coleguinhas. que droga, nunca vou poder fazer um post falando mal deles. nhé]
hahahahahaha
nossa,que loucas... dei muita sorte tendo estudado em escola pública até a quarta série, tive excelentes professoras. até porque se não o fossem, minha mãe daria porrada nelas. rsrsrs por muito menos não fiz primeira comunhão (os colégios eram de freiras). disse: "mãe, odeio aquelas freiras" (me colocavam de castigo aos 7 anos pq não decorava a p* do 'Salve Rainha'. minha mãe foi ao colégio e disse que eu não faria mais aula e muito menos a primeira comunhão. haha
beijo
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