quarta-feira, 18 de maio de 2011

Soco no estômago


Acabo de ver uma reportagem do RJTV, se não me engano, em que um pai homem chuta uma criança deitada no meio de um quintal, diversas vezes, depois puxa outra criança, a qual passa a chutar também, na barriga, na cabeça, nas pernas. A cena foi gravada pelo celular de um dos filhos (abandonados pela mãe, que não agüentou a violência do marido) fez a apresentadora Mariana Godoy soltar um suspiro daqueles que saem da alma, de quem quer chorar e matar. Aliás, abri o link achando que se tratava de algum comentário engraçadinho, uma gafe, uma gag. E acabei de lavar a louça chorando.

Grande coisa. Uma legítima representante da #classemédiasofre chorando enquanto lava a louça. Como se assim lavasse a alma. Como se o fato de que não vai dormir bem à noite por causa da cena, que não lhe sai da cabeça, tenha algum efeito na vida miserável dessas pobres criaturas que foram levadas a viver num abrigo.

Fiquei matutando o que, afinal, pode ser feito? Muitos têm respostas rápidas. Seja voluntária num abrigo para crianças que sofrem violência, leve brinquedos, companhia. Adote. Outros: pare de ver TV, abrir links, viva sua vidinha esquecendo a alheia, afinal somos só a merda na pata do cachorro do xerife.

É tudo tão difícil. Em primeiro lugar, sou contra o voluntariado em geral. Não acho legal gente destreinada, despreparada, e vá lá saber com quais motivações, surgir na vida de pequenas pessoas tão sofridas. Acredito que o Estado precisa usar corretamente nossos impostos para prover abrigos decentes e funcionários treinados, técnica e psicologicamente, para conviver com essas crianças. Que as adoções devem ser desburocratizadas, mas não a ponto de serem desleixadas e resultar, por exemplo, em devoluções de crianças (acontece muito, e mais perto do que você imagina).

Adotar. Já quis adotar uma criança, duas, mas não movida pela vontade de amar – que deve ser o gatilho correto, acredito. Foi um impulso racionalizado, no sentido de “vou fazer algo de valor pelo mundo”, e uau, serei uma pessoa melhor etc. Ou seja, uma forte candidata a se desesperar com o “produto” errado. Para adotar, repito, é preciso primeiro estar a fim de amar. Pode vir a acontecer comigo, mas não é este o meu momento, nem da família.

Outro dia me sugeriram levar a Nina para conhecer e interagir com crianças de um orfanato. Ela mesma, penalizada pelas histórias de órfãs – as princesas, a menina de Bernardo e Bianca, os meninos perdidos de Peter Pan e também pelo pouco de pobreza que vê nas ruas – já sugeriu esse passeio. Sou contra. Não acho justo, mais uma vez, surgir do nada com boa intenção, sem o verdadeiro interesse e preparo para fazer parte da vida dessas crianças. Para uma catarse. Até me vejo trazendo essas amiguinhas pra um final de semana em casa, mas e depois?

Bem, fato é que hoje é Dia de Combate à Violência Sexual Infantil. Dessa, não quero nem falar/escrever. Não tenho nervos pra isso. Mas há blogs fazendo ótimos posts a respeito e há uma recomendação tão simples, que parece incrível o quanto ainda precisa ser martelada: é preciso denunciar. As crianças que apanhavam provavelmente tinham vizinhos ouvindo seus gritos.

Se eu não sei o que fazer para melhorar a vida das crianças que já estão em abrigos, pelo menos sei que geralmente nesses lugares elas têm um atendimento decente. Imagina, sair de uma situação de violência e poder dormir em paz. Então é preciso denunciar toda violência. É um começo.

23 comentários:

Grazi disse...

Tina,

Cliquei, comecei a ver e não dei conta de prosseguir. Isso também me tira o sono e me indigna. E não sei o que fazer também. Mas, acho que não podemos nos calar diante disso. Foi o filho mais velho, que vendo o pai bater nos irmãos, resolveu gravar e mostrar pra um tio, que denunciou o homem à polícia e ele foi preso. Mas, imagina o quanto não foram espancados antes disso? E quantos outros não o são diariamente? Me sinto completamente impotente. :(

Cristiane Rangel disse...

Não vi o vídeo e não verei. Não tenho estrutura pra isso. E, o que dizer? É tudo isso sim, e mais a montanha de barbaridades que vemos todos os dias envolvendo crianças, um soco no estômago mesmo, daquelas dores que não passam. E eu termino o comentário com lágrimas nos olhos pq não entendo, não aceito e não vejo o que fazer.

Caminhante disse...

Na época do Bamerindus, eu lembro das reportagens mostrando as pessoas que levavam as crianças orfãs que cantavam no coral para conhecerem "um natal de verdade". A coitada da criança ia pra uma festa cheia de estranhos, virava atração, ganhava uma coisa qualquer e via o filho de verdade ganhar uma bicicleta.

Tbm acho (como o que o você falou sobre a Nina conhecer os orfãos) esse impulso caritativo rápido complicado. Serve mais pra aplacar nossas consciências do que outra coisa.

lucila disse...

me sinto um lixo humano. só.

Raiza disse...

Que post lúcido.Conheço pouca gente que consegue raciocinar assim em momentos de emoção. Admiro.Sabe,eu tenho uma teoria,que pode ser furada,mas creio que muita gente não denuncia por não confiar plenamente no suporte do estado a essas vítimas.Acho que aí também é culpa do Estado,de não mostrar qual é o atendimento recebido por essas crianças.Volta e meia a gente ouve casos de pais relapsos,agressores,etc que conseguem de volta a guarda das crianças.Acho que isso mina um pouco a confiança das pessoas.Suas palavras sobre adoção resumiram bem o que eu sinto e sua visão do voluntariado realmente me fez pensar.

Marissa Rangel-Biddle disse...

Eu não abri o link, não tenho condições.

Eu já denunciei e denuncio violência contra criança. Aprendi com mãe. Professores veem essas coisas o tempo todo. Ela já ligou tantas vezes na policia pra denunciar antes dos CT serem implantados no NE. Gente já veio a porta dela ameáça-la pq no fundo, no fundo, eles sabiam que era ela a autora da denúncia.

Na minha cidade tem essa mentalidade bem arraigada, grudada mesmo de que os pais tem direitos de espancar os filhos. Que é bonito e de bom tom chicotear os filhos até sair sangue. Parece tão surreal mas não é! Eu convivi com vizinhança, amigos dos amigos que os pais batiam em todos mesmo que somente um tivesse quebrado o copo, por exemplo. Eu tenho um amigo na casa dos 40 que me contou os sem números de surras que ele levou dos pais tão somente por deixar as cabaças de água quebrarem. ( cabaça = o fruto da cabaceira. No sertão elas se criam sem precisar plantar, e é usada pra por água depois de limpa e seca.). Se perguntar - 'porque estão me batendo' e a resposta ser no nível de ' eu deixei a cabaça cair, quebrou e derramou a água que eu tava transportando do Olho D'Água'. Eu não consigo entender também. Ver meus amigos da roça com o corpo lanhado de surras, me afetou mais do que qualquer coisa desse mundo. E eu nunca levei uma chinelada. É tão ironico.

Quando eu fui estudar na cidade grande, perdi a inocência ao ler que uma mulher de classe média alta arremessava os filhos contra a parede da piscina para puni-los. Na minha cabeça, a brutalidade, a ignorancia, a maldade era coisa de gente lá da minha terra.


É um soco todos os dias, Tina.

Andre V. disse...

eu vou escrever um post pra responder esse seu. eu tenho uma visao diferente e tals.

Rita disse...

Ah, Tina.. Nem sei comentar. Mas não vou ver o link.

Não sei comentar.

Bj
Rita
:-(

Anônimo disse...

pois é tina, muda-se de país e os problemas são semelhantes. O pior é que não sabemos o que se passa entre 4 paredes, dentro de uma casa. Recentemente, teve um caso aqui, uma japa,novinha, abandonou seus dois filhos um de 4 e outra de 2 anos. Morreram dentro do apartamento. "Monstros" é o que são. Gostei demais do seu texto, vou reler.
madoka

Anônimo disse...

Eu não consigo ver essas coisas. Choro muito. Fico mal e acho que os animais são serems mais evoluídos que os homens!
Toda vez que vejo me faço perguntas do tipo: por que eu, que quero tanto gerar um filho, não consigo, e pessoas assim têm 3, 4 filhos e só sabem judiar, bater, maltratar? Não entendo! Não entendo! E não entendo! Por mais que me falem e eu acredite em espiritismo, em vidas passadas, etc, acho uma injustiça tudo isso.

Suzana Elvas disse...

Tina;

Fui durante muito tempo voluntária num abrigo para crianças de até seis anos, incluindo soropositivas. Ia uma vez por semana fazer roda de contação e oficina de criação de histórias. Evitava usar roupa bonita, brincos, colares. Não levava nada, a não ser livros e material para brincar durante a rodinha: papel colorido, cola, caixas de sapatos cheias de lápis de cor, canetinhas, giz colorido (nunca levei nada na embalagem original). Uma vez uma voluntária sugerir nós levarmos as crianças para passar o Natal em casa. Eu e muitos foram contra, porque você leva a criança para um ambiente onde os quartos NÃO tem trocentas camas e se cozinha em panelas de tamanho normal, e depois ela não quer voltar - com razão.
Então começamos a levar a nossa festa de Natal para lá - não no dia 23, em plena luz do dia: na noite do dia 24. Deixamos os presentes (nossos e dos filhos - eu era solteira na época) para serem abertos no dia seguinte, no almoço do dia 25. O valor mais alto foi de R$ 40. Roupas e sapatos ficaram de fora. As crianças ganharam muitos brinquedos e livros. O centro ganhou uma TV nova, comprada pelos voluntários numa vaquinha; roupas e sapatos foram dados às crianças pelo corpo administrativo (os cuidadores no papel de mães e pais, no fim das contas).
Por muito tempo fiz o aniversário das meninas lá. Elas tinham a festinha na escola e o festão no abrigo. Essa era a verdadeira comemoração: fazíamos brindes, sorteio de brinquedos (normalmente dois terços do que as meninas ganhavam na festa da escola), gincana, roda de contação de histórias, oficina de contos de fadas. Todo mundo se divertia de montão.
Eu parei porque era em Niterói, as meninas cresceram, o centro mudou-se para São Gonçalo e, sinceramente, depois de ser mãe não conseguia mais enfrentar a barra de procurar uma menina ou um garotinho e descobrir que a Aids e os maltratos o tinham levado. Mas você pode ser voluntária do jeito que eu fui. Você não cura as feridas mas torna mais fácil a jornada e o trabalho de aceitá-las e conviver com elas.
Bjs, fica bem.

caso.me.esqueçam disse...

taih, eu gosto da tua lucidez

Somnia Carvalho disse...

eu entendo tua revolta e sensacao de impotencia...

mas embora eu tambem ache que o Estado e quem deva garantir esses cuidados e nao jogar na mao do terceiro setor eu acredito no voluntariado. Talvez porque eu ja tenha trabalhado muito como uma...

seja em projetos com pessoas carentes, seja com educacao, seja com adolescentes "ex drogados". Sempre foi dificil. Era dificil ver que apesar de ajudar era tao pouco... ainda assim eu realmente me sentia nao so mais util mas tambem eu sentia que ao menos eu podia mudar um pouquinho a vida de um deles... pouquinho mesmo, se mudasse, mas havia alguma fe sabe?

depois que nao fui mais voluntaria eu deixei ainda mais de acreditar na mudanca porque tudo so parece mais dificil... quando a gente se envolve com casos particulares e tenta agir ali a gente ve certa diferenca...

sobre o video eu nao consigo, nunca vejo coisas assim porque ai eu desespero total mesmo!

Verônica disse...

eu não tenho nervos pra isso. juro. é egoísmo meu, eu sei. um defeito. mas eu não consigo. eu me desmonto em casos assim, eu escorro pelo ralo. eu deixo de existir.

Patricia Scarpin disse...

Essas coisas acabam comigo, Tina. Me tiram o sono, o apetite. Acho que foi sexta que vi aquela menininha estuprada pelo pai dos 8 aos 12 anos, me deu ânsia de vômito, tontura, mas te confesso que a minha maior vontade era mesmo matar o desgraçado. Não consigo ser racional com coisas assim. Acho que seria capaz de algo terrível.

xx

Anônimo disse...

Li recentemente um blog que achei interessante, sobre abuso sexual infantil.
Li apenas dois posts, mas achei legal.
Vou deixar aqui a recomendação:
http://relatodeumabuso.blogspot.com/2011/03/por-que-criar-um-blog.html

Fernando Borges disse...

Muito interessante o seu texto.
Me lembrou do filme Hotel Ruanda. O filme relata todo um processo horrível que ocorreu recentemente e que culminou na morte de duas milhões de pessoas; um verdadeiro genocídio...
Quando as informações do massacre começaram a chegar a conhecimento de todos, ninguém pareceu fazer muito coisa sobre o assunto.

Um personagem, no filme, diz:
"Eles olham isso, dizem 'nossa, que coisa horrível' e mudam de canal.

Acho que é assim que a nossa sociedade funciona, infelizmente.
Uma sociedade vazia, fria e que dá mais audiência para um casamento de duas pessoas num país que praticamente possui o lema "I don't give a shit" do que para um genocídio em curso...

Enfim... Ótimo texto!
Abraço

Anônimo disse...


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