Mais ou menos na mesma época em que me bronzeava no quintal, um dos meus primos teve um bar, bem botecão. Abria depois do almoço e ficava vazio, praticamente a tarde toda, até começar a movimentação da saída dos operários da Fábrica, depois do apito das 17h30. Como eu não tinha o que fazer, passava as tardes no bar com o primo e um amigo dele, que todo dia também, por falta do que fazer, ia lá dar uma mão, uma varridinha, atendendo alguns fregueses, quebrando o galho por um trocado ou trago (e companhia): o Talento. O Talento tinha esse apelido justamente porque, de acordo com a visão dos meus primos, os caras barra-pesada do bairro, era o que lhe faltava - rapaz tímido, boa gente: não era marginal como os irmãos, porém igualmente não botava comida em casa. Magrelo, falava devagar, baixo, sempre com a mão na frente da boca porque lhe faltavam alguns dentes (nunca vi) - "tá-lento". Mas o Talento gostava de ler. "Tina, olha o que eu tô lendo, vamos trocar, quando você terminar o teu, me empresta". Era um dos poucos assuntos que o levava a conversar comigo. Ele me emprestou o primeiro livro do Woody Allen que li - Que Loucura - e passou uma tarde me falando dos filmes, que eu nem tinha visto ainda (além de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa). Quando minha mãe quis ler também, reparou que o livro tinha marca da Biblioteca Municipal e provavelmente teria sido, digamos, emprestado e não mais devolvido. Sempre lembro dele quando cruzo com os exemplares de W. Allen da minha estante. Aliás, são todos ótimos, divertidíssimos, recomendo muito.
2 comentários:
Gente, eu nunca li Woody Allen... nunca. Socorro, Tina, me salva. Só ouvi, muito. Como fala, ne?
:-)
Beijo
Rita
Eu curto muito ler Woody Allen...e quase sempre leio escutando sua vozinha deliciosamente enervante dentro da minha cabeça.
E que figura o Talento, né...
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