quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Day 14: A book that reminds you of someone



Mais ou menos na mesma época em que me bronzeava no quintal, um dos meus primos teve um bar, bem botecão. Abria depois do almoço e ficava vazio, praticamente a tarde toda, até começar a movimentação da saída dos operários da Fábrica, depois do apito das 17h30. Como eu não tinha o que fazer, passava as tardes no bar com o primo e um amigo dele, que todo dia também, por falta do que fazer, ia lá dar uma mão, uma varridinha, atendendo alguns fregueses, quebrando o galho por um trocado ou trago (e companhia): o Talento. O Talento tinha esse apelido justamente porque, de acordo com a visão dos meus primos, os caras barra-pesada do bairro, era o que lhe faltava - rapaz tímido, boa gente: não era marginal como os irmãos, porém igualmente não botava comida em casa. Magrelo, falava devagar, baixo, sempre com a mão na frente da boca porque lhe faltavam alguns dentes (nunca vi) - "tá-lento". Mas o Talento gostava de ler. "Tina, olha o que eu tô lendo, vamos trocar, quando você terminar o teu, me empresta". Era um dos poucos assuntos que o levava a conversar comigo. Ele me emprestou o primeiro livro do Woody Allen que li - Que Loucura - e passou uma tarde me falando dos filmes, que eu nem tinha visto ainda (além de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa). Quando minha mãe quis ler também, reparou que o livro tinha marca da Biblioteca Municipal e provavelmente teria sido, digamos, emprestado e não mais devolvido. Sempre lembro dele quando cruzo com os exemplares de W. Allen da minha estante. Aliás, são todos ótimos, divertidíssimos, recomendo muito.

2 comentários:

Rita disse...

Gente, eu nunca li Woody Allen... nunca. Socorro, Tina, me salva. Só ouvi, muito. Como fala, ne?

:-)

Beijo
Rita

Luciana Nepomuceno disse...

Eu curto muito ler Woody Allen...e quase sempre leio escutando sua vozinha deliciosamente enervante dentro da minha cabeça.

E que figura o Talento, né...