quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dia 2: Melhor Sequência Inicial e Melhor Sequência Final

Melhor Sequência Inicial

Estava entre duas possibilidades para este item, mas como estou em vantagem por inaugurar o meme, hahaha, vou mandar mesmo a mais clássica e, talvez, a mais óbvia. Valorizo demais o talento de quem consegue nos prender, vítimas de algum truque de roteiro ou de imagens poderosas, desde o comecinho de um filme. Foi-se o tempo que era uma questão de honra chegar até o final de qualquer produção, mesmo que eu não estivesse gostando; ou eu tinha esperança de que melhorasse ou queria mesmo ver até o final pra "poder falar mal". Mas essa mania passou. O tempo é curto, a vida é bela, eu tenho louça pra lavar e não perco meu tempo além dos, digamos, 15 minutos iniciais de um filme. Se não me "pegou" nesse tempo, ou se achei ruim durante todo esse quarto de hora, dispenso.

Assim, o começo de Janela Indiscreta (1954), do insuperável Hitchcock, é o melhor exemplo de que "uma imagem vale mais que mil palavras", ainda mais se a imagem for um plano-sequência que nos mostra detalhes de um quarteirão de prédios residenciais, seus moradores, suas rotinas, esquisitices e particularidades; que o clima está terrível, muito quente; que James Stuart é um fotógrafo premiado, aventureiro, que acaba de se acidentar e está em casa, entediado, com a perna quebrada. Pronto, é o suficiente para qualquer pessoa se interessar pelo que vai acontecer - o que só melhora em seguida, com a presença da maravilhosa Grace Kelly, em sua melhor forma, inesquecível. E sem voz em off, ah que maravilha. Só um lindo plano-sequência que diz tudo e te faz feliz em ter ainda uma hora e meia pela frente.







Melhor Sequência Final

Não se trata do melhor final, não confundamos. A melhor sequência final é aquela conclusão de uma história, uma (normalmente longa) cena que vai construindo o final do filme, dando uma lógica para o grand finale, nos conduzindo ao desfecho; aquela sequência que pode ir nos tirando o chão ao perceber o que realmente vai acontecer, ou que nos deixa de coração quentinho com o desenrolar até o THE END. Bem, O Último Tango em Paris é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Realmente é uma pena que seja mais lembrado por duas polêmicas que não refletem sua qualidade: primeiro, a cena da manteiga em si. A famosa cena da manteiga, terrível, ousada, sexy, perturbadora (digite no youtube "paris-tango" e vão surgir mil links com manteiga, butter ou jovens universitário "fazendo referência" à cena em suas aulas de teatro). Que também é motivo pra segunda e mais triste polêmica: o suposto abuso da intérprete, a então jovem espevitada Maria Schneider, falecida há pouco tempo, decadente, triste, lamentando ter participado desse filme e, principalmente, desta cena. Deve mesmo ter acontecido assim: um grande diretor, Bernardo Bertolucci, e um grande ator, improvisam e criam em cima de um roteiro que vai ficando mais e mais ousado. Maria Schneider não queria a cena da manteiga e contava que ela realmente chora, de ódio, de revolta, pelo abuso que sofria à vista dos técnicos e, logo depois, do mundo todo. Ela dizia preferir ter se tornado uma boa atriz ao longo do tempo, sem o estigma que carregou pelo resto da vida. Pena mesmo. Hoje talvez ela não sofresse tanto com isso, ou quem sabe? com o encaretamento do mundo do jeito que anda... Difícil saber se foi o filme que a levou às drogas e decadência, ou se isso aconteceria de qualquer forma. Marlon Brando, maravilhoso, também parece ter se arrependido do filme, para o qual teria se exposto além do esperado. Ambos se disseram manipulados por Bertolucci.

Voltando à sequência final. Cuidado, é spoiler do brabo. Paul e Jeannie, o casal improvável - caso alguém AINDA não saiba (duvido) ele, um viúvo que ainda nem enterrou a mulher; ela, uma jovem noiva de um cineasta moderninho - que se encontra sem compromissos, sem nem saber seus nomes, num apartamento sem móveis, se deixam enganar pela promessa de uma vida juntos, bêbados, num salão de tango. Seus diálogos, monólogos, cenas de sexo e de desbunde são das melhores do cinema. Mas todos aqui têm um triste fim.


6 comentários:

João_Paulo1223 disse...

melhor seq inicial: 2 minutinhos do Anthology dos Beatles.

melhor seq final: saquinho de plastico voando em American Beauty com kevin falando.

Rita disse...

Olha, Tango faz tanto tempo que precisaria rever para ser justa. Não me lembro de o final ter me arrebatado não.

(Eu sabia que seria assim: filme + bastidores. Show!)

Bj
Rita

Verônica disse...

os filmes de Hitchcock me perturbam tanto, até hoje fico desorientada quando assisto a "Os Pássaros".
eu gosto muito da sequência final de Last Tango, e fico me perguntando o quanto ele foi ruim pra carreira da Maria Schneider.
quase todo ator que trabalha com o Bertolucci reclama de manipulação e de uma exigência maior do que os limites e tal, talvez por isso os filmes dele sejam sempre incômodos, na minha opinião.
fecho com o Enio na melhor sequência final, lembro que até comentei na análise o monólogo final do Lester.

Luciana Nepomuceno disse...

Janela Indiscreta tem sequências memoráveis, intensas e, algumas, até divertidas. Outras, poéticas, como quando vemos a bela Grace tomando forma ante os olhos borrados de James Stewart. Escolha primorosa que me põe em alerta. mas, putz, a sua seqüência final foi até covardia. Porque nela é tudo tão bonito e dolorido.

paulo manoel antonio disse...

O final de Morangos Silvestres e o começo de Yojimbo; o começo de Alice Não Mora Mais Aqui e o fim de Blow Up; e o Sr. Hulot inteiro, assim como Sete Noivas Para Sete Irmãos.

Augusto Arbustus disse...

Melhor sequência inicial: "um dia muito especial" de Ettore Scola. O plano-sequencia de, sei lá, quase 10 minutos que dá início ao fim e mostra Sophia Loren dando conta de uma casa com uma penca de filhos na Itália do pré-guerra é, sem dúvida, o melhor sequencia inicial do cinema.

Melhor sequência final: "Flores Partidas" de Jim Jarmusch, me espanta o modo como o filme é conduzido ao seu final, fazendo o espectador crer que sim, o filme se encerrou no momento exato.