sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pró-atividade solidária

Ontem decidi ser pró-ativa (risos) e resolvi mil coisas na hora do almoço. Entreguei os livros sobre cerveja do frila que não faço mais, fechei uma conta no banco, peguei resultados de exames. Ok, parece pouco, é pouco, ah, me deixa. Enfim. Estava indo correndinho pro meu carro antes que o EstAr vencesse e a periquita surgisse de bloco de multas em mãos (elas saem de dentro dos bueiros, parece), e passei por um casal, na calçada, em plena DR. 

A moça chorava e o rapaz argumentava, normal, até que quando passei bem ao lado ele falou mais alto e com bastante veemência algo como - "Agora chega - PENSA". E a postura dele mudou: cresceu pra cima da moça, estufando o peito contra o seu rosto, cerrando os punhos. 

Eu me assustei e também mudei minha postura. Não falei nada mas passei a andar muito devagar, a quase zero por hora, olhando fixamente para a menina. Não para o homem. Ele percebeu e se afastou dela. Continuei olhando para trás e me afastando devagar. Ela chorava e olhava para baixo. Cheguei até meu carro, entrei e percebi: assim que eu saí da visão deles, o cara voltou a ter a postura agressiva. Ok, certo, ele podia ter sido agressivo comigo também. E faz tempo que parei de correr, preciso me exercitar, o rapaz era tatuado e forte, eu sei que podia estar procurando encrenca. Ou ambos podiam me xingar tipo "sai intrometida". Dou de ombros. Apesar do meu trauma recente de briga na rua, há tempos decidi que nunca mais vou me abster ao perceber alguma possibilidade de violência contra a mulher. Acho que deixei clara minha solidariedade. Pensei até em chamá-la para o carro, caso houvesse alguma agressão.

Não é o único motivo para esta disposição em ser pró-ativa (risos, de novo) nesse tipo de situação, mas lembro a única empregada, mensalista, que tivemos. Um dia ela me liga chorando que não podia ir trabalhar naquela semana por dois motivos: estava muito dolorida e com muita vergonha para sair de casa. Tinha os dois olhos e as pernas roxas. O desgraçado do ex-marido a tinha surpreendido em plena rua ao descer do ônibus, chegando do trabalho. Ele queria voltar pra ela, ela não queria, e ele a acusava de ter um outro homem. E sim, era o salário que pagávamos - um tantinho mais que o mínimo, com registro certinho, vale-transporte - como empregada, que a permitia morar sozinha com a filha, estudar no supletivo do bairro, à noite. Mal ou bem, era independente e isso enlouquecia o ex. A sorte dela naquele fim de dia foi que uma dupla de policiais atravessou no seu caminho. Ela me contou rindo, dias depois, quando o preto dos olhos já estava esverdeado, que os policiais o chutaram da mesma forma como ele fez com ela (era uma menina muito bonita e querida, espero que esteja bem: trocou o trabalho doméstico por uma fábrica). Mas naquele dia, enquanto ela apanhava, a rua se esvaziou e não apareceu ninguém, além da providencial ronda, para ajudá-la. 

5 comentários:

Caminhante disse...

Horror, Tina. Um dia eu vi a recomendação de que se precisar de ajuda a pessoa deve gritar FOGO ao invés de SOCORRO, porque no primeiro caso as pessoas ajudam e no segundo dão no pé. Seria engraçado se não fosse triste.

Cristiane Rangel disse...

Tina, a pouco tempo ( e vc sabe) passei por uma situação assim. Um homão berrando comigo, vindo assim, com aquela cara de ruim, peito estufado, pra cima de mim.
A gde questão é que eu ñ baixei os olhos e jamais baixarei. Eu encarei e bateria nele (eu com td esse tamanhão) se tivesse vindo pra cima de mim. Penso que a questão é a reação das mulheres. As que ñ conseguem precisam de alguém que as defenda, do agressor, delas mesmas, muitas vezes.
Tb ñ me abstenho se vejo mulher sendo agredida. E acredito que esta seja a atitude certa.
Ah, e sobre o pouco da pró ação: pode parecer pouco, ma sna verdade, não é.

Juliana disse...

me lembrei de uma cena que vi uma vez. eu tava num ônibus,que fazia ponto do lado de uma escola, longe do portão de entrada. Um casal adolescente, alunos da escola, estavam do lado de fora, discutindo, quando o menino enfiou os dedos no cabelo da menina, na região da nuca, e começou a puxar. Todo mundo do ônibus parou pra olhar. algumas pessoas ameaçaram descer do ônibus, gritaram, dai o menino parou. Mas foi só ônibus se afastar pra ele pegar no braço da menina.

Eu fiquei paralisada diante da cena. Na época, eu devia ser uns 3 ou 4 anos mais velha que o casal.
Morri de medo daquele garoto, fiquei impressionada com aquela possessividade e demonstração de força que eu nunca tinha presenciado. Até hoje me sinto mal por ter ficado paralisada, por ter sido uma mera espectadora.

Raiza disse...

O foda é o medo de fazer alguma coisa e acabar apanhando também...
Mas eu acho assim,pelo menos ligar pra polícia,sabe?
Eu lembro de uma vez que eu tava andando na rua e tinha uma mãe batendo (mas batendo mesmo) num garotinho de uns 4,5 anos.Todo mundo olhando escandalizado e ninguém fez nada.Cheio de homem em volta,que podia ter parado a mulher sem machucá-la e nada.
Acho que outra coisa é que as pessoas duvidam da eficácia da polícia.Tipo,tem um casal de mendigos que volta e meia tem uns barracos agressivos aqui na rua.Eu fico pensando,se eu ligar pra polícia é capaz deles rirem da minha cara.Nego num vem nem resolver quando é assalto.
Mas no fim das contas,você tá certa,a gente tem que se posicionar contra mesmo.O problema é definir o tipo de posicionamento adequado.O que ajude a vítima e não te meta em roubada.

Rita disse...

Que horror.