O menino não gosta de dançar, tem pânico de se apresentar em público. Mas é obrigado pela família a participar da quadrilha de festa junina, a caráter, as lágrimas escorrendo sobre o bigodinho pintado com o kajal da mãe. Atrapalha a dança, chateia a coleguinha com a qual faz par e ainda sofre o mico supremo de terminar a coreografia com a professora.
"Tem que dançar, tem que perder a vergonha, tem que aprender".
O menino não quer ir ao passeio da escola. Tem medo de ônibus, não gosta de ficar longe dos lugares onde se sente seguro – e só ele sabe o quanto demorou tanto para se acostumar com a rotina da própria escola. Mas os pais o levam cedinho, obrigam-no a se integrar ao grupo – o que não vai acontecer de fato até cessar o choro –, a entrar na fila, a partir sem qualquer vontade.
"Tem que ir, tem que perder o medo, tem que participar".
Não julgo. Mas tem que, mesmo?
11 comentários:
Respeitar as decisões e escolhas das pessoas ñ é fácil. Fica ainda mais difícil quando se trata de uma criança. Pq o adulto esqueceu do quão aterrorizante pode ser a escola, o colega, o corredor da escola, a festa, o passeio. O adulto esquece, mas para a criança está tudo ali, muito latente. O adulto acha que é só firula de criança, manha. Lá em casa sempre tentei respeitar aquilo que 'ñ tem que' e fazer entender o que realmente 'tem que'. E vamos seguindo.
Tina, como introvertida te digo que é injusta, pra dizer o mínimo, a maneira como o mundo nos trata.
Como eu ODIAVA ter que fazer trabalho em grupo, participar das aulas de educação física (sempre esportes em grupo), a cobrança por exposição e interação me deixava angustiada. E sei que não estou sozinha nessa - olhando as estatísticas do meu blog, vi que o post sobre introversão foi e ainda é o mais visitado. Recentemente saiu na Spiegel uma matéria sobre introvertidos - falando exatamente sobre a injustiça que a sociedade atual exerce, valorizando apenas os extrovertidos. Quer coisa mais contraproducente do que uma reunião com uma dúzia de pavões querendo se exibir pro chefe, todos falando e ninguém ouvindo? Nhé.
Fico com o coração na mão quando escuto esse relatos. Dói tanto...
O comentário da Camila aí em cima me tocou bastante porque eu sou introvertida e tenho pensado muito, ultimamente, em como a sociedade é injusta com quem é como eu.
E, poxa, o seu post me tocou bastante. Desde que ganhei uma sobrinha e desde que virei professora essas questões educacionais me sensibilizam demais. Há atitudes tão cruéis por parte da escola e da família. Não sei se às vezes sou condescendente demais (tanto com meus alunos quanto com minha sobrinha), mas tenho pavor desse forçar a barra excessivo e mesmo violento que não deixa espaço pra vontade e escolhas individuais, pras variações de personalidade.
Ah, Deise, sei lá, a criança não quer, chora, faz mal pra ela, na primeira, na segunda, não precisa tentar uma terceira vez, né? É isso que a Frau comentou, ser extrovertido não precisa ser o padrão. Aliás, num mundo dominado por milionários nerds, não entendo por que ainda é!
Essa de forçar a dançar e se apresentar acho o fim. O troço é pra ser divertido, né? Vira massacre, perde o sentido.
Engraçado. Meus pais sempre foram conservadores - até palmada eu levei, rs - mas no quesito 'educação' eles nunca interferiram. Lá em casa todo mundo sempre fez o que quis. Quer fazer curso de trapezista? Faz. Quer aprender violão/balé/judô? Aprende. Meu irmão foi aprender desenho quando criança. Virou artista plástico. Eles nunca nos forçaram a nada. Acho que se a criança chora, não quer, não se deve insistir mesmo. Me dá nos nervos os pais tentando fazer de seus filhos a 'estrela' do balé e o campeão da natação. Ou forçando a barra pro menino ser o mais popular da escola.
Hmmm, depois que reli o post acho que fiz um comentário não muito procedente. O ponto é mais o *ter* que ser extrovertido. Como você disse, num mundo onde os nerds não precisam provar mais nada, já perde todo o sentido.
nossa passei por coisa parecida quando era criança. è um horror.
Não tenho filhos, posso dizer pouco. Mas criança não tem lá muito o que decidir, sendo criança. Esta coisa de botar a decisão das coisas na mão delas me dá um asco - parte porque é responsabilidade demais na mão de uma criança, outra porque me parece preguiça de educar. Mas, como eu disse, não tenho filhos, sei nada da prática.
Está aí, não à toa, o livro "O poder dos quietos" em todas as listas de mais vendidos. É uma espécie de defesa dos introvertidos num mundo que, como você ilustrou, a extroversão é compulsória.
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