quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Da educação

O menino não gosta de dançar, tem pânico de se apresentar em público. Mas é obrigado pela família a participar da quadrilha de festa junina, a caráter, as lágrimas escorrendo sobre o bigodinho pintado com o kajal da mãe. Atrapalha a dança, chateia a coleguinha com a qual faz par e ainda sofre o mico supremo de terminar a coreografia com a professora.

"Tem que dançar, tem que perder a vergonha, tem que aprender".

O menino não quer ir ao passeio da escola. Tem medo de ônibus, não gosta de ficar longe dos lugares onde se sente seguro – e só ele sabe o quanto demorou tanto para se acostumar com a rotina da própria escola. Mas os pais o levam cedinho, obrigam-no a se integrar ao grupo – o que não vai acontecer de fato até cessar o choro –, a entrar na fila, a partir sem qualquer vontade.

"Tem que ir, tem que perder o medo, tem que participar".

Não julgo. Mas tem que, mesmo? 


11 comentários:

Cristiane Rangel disse...

Respeitar as decisões e escolhas das pessoas ñ é fácil. Fica ainda mais difícil quando se trata de uma criança. Pq o adulto esqueceu do quão aterrorizante pode ser a escola, o colega, o corredor da escola, a festa, o passeio. O adulto esquece, mas para a criança está tudo ali, muito latente. O adulto acha que é só firula de criança, manha. Lá em casa sempre tentei respeitar aquilo que 'ñ tem que' e fazer entender o que realmente 'tem que'. E vamos seguindo.

Camila disse...

Tina, como introvertida te digo que é injusta, pra dizer o mínimo, a maneira como o mundo nos trata.
Como eu ODIAVA ter que fazer trabalho em grupo, participar das aulas de educação física (sempre esportes em grupo), a cobrança por exposição e interação me deixava angustiada. E sei que não estou sozinha nessa - olhando as estatísticas do meu blog, vi que o post sobre introversão foi e ainda é o mais visitado. Recentemente saiu na Spiegel uma matéria sobre introvertidos - falando exatamente sobre a injustiça que a sociedade atual exerce, valorizando apenas os extrovertidos. Quer coisa mais contraproducente do que uma reunião com uma dúzia de pavões querendo se exibir pro chefe, todos falando e ninguém ouvindo? Nhé.

S.L disse...

Fico com o coração na mão quando escuto esse relatos. Dói tanto...

Deise Luz disse...

O comentário da Camila aí em cima me tocou bastante porque eu sou introvertida e tenho pensado muito, ultimamente, em como a sociedade é injusta com quem é como eu.

E, poxa, o seu post me tocou bastante. Desde que ganhei uma sobrinha e desde que virei professora essas questões educacionais me sensibilizam demais. Há atitudes tão cruéis por parte da escola e da família. Não sei se às vezes sou condescendente demais (tanto com meus alunos quanto com minha sobrinha), mas tenho pavor desse forçar a barra excessivo e mesmo violento que não deixa espaço pra vontade e escolhas individuais, pras variações de personalidade.

Tina Lopes disse...

Ah, Deise, sei lá, a criança não quer, chora, faz mal pra ela, na primeira, na segunda, não precisa tentar uma terceira vez, né? É isso que a Frau comentou, ser extrovertido não precisa ser o padrão. Aliás, num mundo dominado por milionários nerds, não entendo por que ainda é!

Rita disse...

Essa de forçar a dançar e se apresentar acho o fim. O troço é pra ser divertido, né? Vira massacre, perde o sentido.

anouska disse...

Engraçado. Meus pais sempre foram conservadores - até palmada eu levei, rs - mas no quesito 'educação' eles nunca interferiram. Lá em casa todo mundo sempre fez o que quis. Quer fazer curso de trapezista? Faz. Quer aprender violão/balé/judô? Aprende. Meu irmão foi aprender desenho quando criança. Virou artista plástico. Eles nunca nos forçaram a nada. Acho que se a criança chora, não quer, não se deve insistir mesmo. Me dá nos nervos os pais tentando fazer de seus filhos a 'estrela' do balé e o campeão da natação. Ou forçando a barra pro menino ser o mais popular da escola.

anouska disse...

Hmmm, depois que reli o post acho que fiz um comentário não muito procedente. O ponto é mais o *ter* que ser extrovertido. Como você disse, num mundo onde os nerds não precisam provar mais nada, já perde todo o sentido.

leila disse...

nossa passei por coisa parecida quando era criança. è um horror.

Anônimo disse...

Não tenho filhos, posso dizer pouco. Mas criança não tem lá muito o que decidir, sendo criança. Esta coisa de botar a decisão das coisas na mão delas me dá um asco - parte porque é responsabilidade demais na mão de uma criança, outra porque me parece preguiça de educar. Mas, como eu disse, não tenho filhos, sei nada da prática.

anna v. disse...

Está aí, não à toa, o livro "O poder dos quietos" em todas as listas de mais vendidos. É uma espécie de defesa dos introvertidos num mundo que, como você ilustrou, a extroversão é compulsória.