quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Day 13: A book that reminds you of something/sometime



O livro era emprestado da biblioteca municipal, trazido por meu pai, ou talvez emprestado por uma tia, sócia do Círculo do Livro, não lembro. Era verão, as férias seriam longas e naquele ano não teríamos praia. Vacas magras, provavelmente. Eu botava uma caixa de som do meu aparelho, presente de 14 anos, pra fora da janela do quarto; ligava num dos lados da fita preferida, gravada dos discos de vinil das primas: 45 minutos de Prince, tlec, tinha que ir lá virar pra mais 45 minutos, agora de Billie Joel. Pegava uma toalha velha, colocava o biquíni antiquado e me lambuzava com algum produto oleoso -podia ser o óleo Johnson's ou azeite mesmo. Ia pros fundos da casa logo após lavar a louça do almoço com um copo cheio de água e gelo. O gramado selvagem estava cortado, mas espetava o corpo. As formigas subiam pelo lombo, daquelas grandonas, pretas, mas só faziam cosquinha. Ouvia risadas de quando em quando: eram os vizinhos crentes que espiavam pelo muro. Deitava com a cabeça estrategicamente debaixo de um pedaço de sombra da poncanzeira gigante. E pegava o livro. Um romance daqueles classicões, com os quais a gente se identifica com o herói-vilão. Tlec, acabava o lado Purple Rain, ia virar a fita de novo, encher o copo com mais gelo, o suor escorrendo pelo corpo azeitado, esturricando de sol e céu azul.

Esse título ia pro dia do filme-que-virou-livro, mas como vou deixar de lado uma lembrança tão boa?

Naquela mesma época, lá pelos 15 anos, assisti na sessão da meia-noite na Globo, hora dos filmes legendados, o filme a que o livro deu origem - A Place in The Sun, com Elizabeth Taylor e Montgomery Clift. Maravilhoso. Depois soube que o mesmo livro foi a inspiração de Janet Clair para a novela Selva de Pedra. Quantas referências, hein. É um livro muito bom, tem uma resenha ótima aqui.

8 comentários:

Suzana Elvas disse...

Ai, "Um lugar ao sol" - AMO esse livro/filme!

@liginha disse...

Sublime o relato, lembrou muito minha adolescência! Sim, eu ainda peguei a fase das fitas K7.

Rita disse...

Olha, Tina, esse seu post daria um ótimo parágrafo inicial de um romance. Juro, achei ruim que acabou.

E no meu quintal não tinha grama, eu deitava no chão de cimento e só depois das duas quando o sol chegava no pouco espaço que eu tinha. Nenhum vizinho espiava, acho e eu me sentia bem ridícula mesmo assim. Derretia de calor, derretia...

Beijo
Rita

Palavras Vagabundas disse...

Tina,
gosto muito do filme mas não tenho lembrança de ter lido o livro, de qualquer forma suas memórias e a forma que escreveu é muito melhor!
abs
Jussara

nilus queri disse...

assisti ao filme por sua recomendação, lá nos idos da Fonte. não bastasse ser ótimo em tudo, o elenco é foda. porque a tia dela era a k. hepburn, né? que saudade, que saudade, que saudade da elizabeth thaylor!

Tina Lopes disse...

Esse é outro, Nilus, é "De Repente, no Último Verão". Realmente, maravilhoso, peça de Tenessee Williams, infelizmente bastante alterada do original, quase até tornar-se difícil de entender. Saudade mesmo, dela.

nilus queri disse...

verdade, hahaha!

Luciana Nepomuceno disse...

ME-NI-NA! Tô impressionada. Mesmo. Muito. Não conheço quase ninguém que leu este livro (ta, pode ser círculo estreito de amizades). E - divagando - como Monty era lindo, jisuis!