terça-feira, 3 de julho de 2012

É tudo mentira



Tem um pessoal muito legal e engajado brigando pelo fim da propaganda para crianças. Na verdade não é bem isso, mas na real é quase isso. Eu que sou super alienada fico sabendo das coisas na última hora mas olha, taí uma causa à qual vale a pena se engajar. Sou super, mas muito, contra propaganda em canais infantis e durante a programação infantil na televisão. Ok, muita gente pode dizer "só permita a TV Cultura" ou "não deixe seus filhos verem TV" mas gente, tô falando de normatização, de se impedir que as crianças virem consumidores antes mesmo de serem alfabetizadas - coisa que já ocorre, todo mundo sabe disso. Não de escolhas ou educação. E aqui em casa se vê TV, sim. O mínimo que eu posso suportar e o máximo que a Nina consegue me dobrar, é sempre uma guerra, mas convenhamos que a programação de hoje é muito legal (eu <3 Bob Esponja). Mas os intervalos... é um tal de "quero tal marca, quero tal brinquedo", de se criar necessidades inexistentes, de iludir os coitadinhos de que o boneco vai voar, a boneca vai vomitar como se fosse de verdade. O que sempre acaba em frustração, mesmo porque criança precisa de espaço e de fantasia, não de brinquedos faz-tudo. Propaganda infantil é canalhice, ponto.

Sei do que estou falando, trabalhei bons 5 ou 6 anos com propaganda. 

Aqui em casa o mantra é o seguinte: PROPAGANDA É MENTIRA. "Mãe, olha que boneca linda, abre as asas e fica azul". É MENTIRA, MEU AMOR. "Mas por que mentem, mamãe?" PRA FAZER VOCÊ QUERER E A MAMÃE GASTAR DINHEIRO. "Só querem dinheiro, mamãe?" SÓ. DINHEIRO.

Posso até estar sendo injusta. Mas que se dane. A Nina sempre duvida de propaganda. A última vez em que ela quase caiu no papo foi com aqueles sabonetes que se dizem matadores de micróbios (e que são condenados por dermatologistas). "Mãe, por que não usamos estes sabonetes que matam os micróbios?" Porque são mais caros e fedidos, meu amor. "Mas mãe, eles matam micróbios... ou é propaganda mentirosa?". Adivinha, minha linda.


PS - E o volume duas vezes mais alto na hora do comercial? Afff

18 comentários:

Josianne disse...

Essas regras exageradas transformam os pais em idiotas. Ser pai é isso: explicar o que é propaganda, dizer não quando a criança pede algo que viu na TV, é regular o que ela vê na televisão, na internet. Não são as propagandas que estão erradas, são os pais que andam delegando demais suas decisões para a mídia, para as leis, para a escola.

Caminhante disse...

Minha mãe conta que quando eu era criança bastava ver uma propaganda para pedir pra ela comprar, fosse o que fosse. Um dia eu lhe pedi pra comprar um "já nas bancas".

Eu concordo contigo. Lembro do quanto as propagandas eram sedutoras, dos cenários fantásticos, das pessoas felizes, e quando o brinquedo chegava em casa não era tudo aquilo. Mas foi muito brinquedo até cair essa ficha... Se até nós, adultos, nos deixamos seduzir, acho demais esperar que as crianças fiquem imunes. Tem que proibir sim.

Carla Regina disse...

Eu discordo, Josianne. Mesmo se não tivéssemos propaganda para crianças na TV, os pais teriam um bom trabalho de explicar um monte de coisa para os filhos. E os filhos ainda assim iam querer um monte de coisas, que os pais iriam negar e esse exercício nunca vai deixar de existir. Esse é um processo natural, que a propaganda só faz aumentar (às vezes de uma forma que foge o controle, a gente não pode esquecer do menino que vê os pais super cedo, antes de ir pra creche, e super tarde, quando eles chegam do trabalho). Por maior que seja a participação dos pais no processo, a educação não pode ser responsabilidade unicamente deles. É preciso uma tribo para educar uma criança (como é mesmo esse ditado?).

Gostei do "é tudo mentira", Tina. Vou adotar, pra mim. ;)

Josianne disse...

E se as crianças não tiverem contato com a propaganda quando criança, aprenderão a lidar com ela quando adultos? Acho que tem que regular sim a propaganda, mas proibir é sempre simples demais na minha opinião.

Cam Seslaf disse...

Opa, mais uma que adotará o "é mentira" em casa. A Cat vê uma hora e meia de TV no máximo, na hora de dormir, e eu sempre me assusto quando a vejo repetindo slogans.

. disse...

Alê quase não vê tv aberta ou cabo: acaba vendo mais seriadinhos ou filmes no DVD ou na Netflix e se deixarmos ele fica lá apodrecendo na frente da tela, claro, assim como nós mesmos (eu e o pai) apodrecemos em frente à tela do computador ;)

Também controlamos bem o tipo de programação a que ele tem acesso - então ele passa quase incólume pela moda de Ben 10, ao contrário de 95% dos colegas da escola. O que ele tem em casa do personagem é ganho de amiguinhos ou parentes que ignoram o fato de que ele sequer sabe o que é Ben 10. Mas ele já deu um mini-faniquito no supermercado porque queria um raio dum iogurte do Ben 10. Então vejam que figurinhas influenciáveis.

Não chego a concordar totalmente com a Josianne, mas acho fundamental quando ela lembra que os pais precisam ter chance de exercer esse papel de mediadores da relação entre criança e propaganda. Então assim, ele quase não tem acesso, mas quando reivindica alguma coisa (cada vez que ele bota os olhos em algum comercial ele pede um brinquedo diferente) eu e o pai precisamos entrar em cena.

. disse...

E ah, Bob Esponja. Somos todos fãs incondicionais e gargalhamos juntos. Aquele desenho é realmente sensacional, manda a razão às favas. "O Patrick não é muito esperto, né mamãe?" virou bordão, repetido às gargalhadas pelo menino.

Deise Luz disse...

Desde que minha sobrinha nasceu me sinto muito tocada por essa discussão. Ela tem 1 ano e presta mais atenção nos comerciais do que nos desenhos. Ainda não tem idade para entendê-los, claro, mas fico pensando em como será daqui a uns anos, pois acho que os pais não irão se importar com esse controle... De minha parte, acho a publicidade infantil simplesmente cruel.

Tina Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tina Lopes disse...

Se já proibiram propaganda de cigarro, por todo o mal que a propaganda causa, não vejo por que não proibir propaganda de bens de consumo inúteis ou alimentos que não são saudáveis para um público-alvo frágil. Eles vão crescer e consumir, ué, como todos nós, mas por que não adiar essa ânsia de consumo? Não vejo mal nisso. Sem contar que a grande maioria da população não tem os pais próximos dos filhos por muito tempo. E que a TV é a "babá eletrônica". Sim, tudo errado - e a propaganda piora.

Lia Drumond disse...

Tudo o que eu via na TV, queria. Aqui em casa tb não tem TV, baixo conteúdo e eles têm um 'case' com uns cinquenta dvds, pq não aguentava mais o tanto caixa de dvd espalhado pela casa. O maior pede o que vê relacionado aos personagens no mercado, mesmo sem ver propaganda na TV. Concordo que não precisa de propaganda pra criança querer qualquer tranqueira com cara de um personagem que ela goste. Não sei se proibir é o melhor, mas tb digo pros pequenos que tudo na TV é mentira, pq tudo tem mentira produzida em alguma escala, até nos noticiários... Adorei o texto e o questionamento que levantou aqui em casa. Bjs

Rita disse...

O efeito na Amanda, 4 anos, é impressionante: é só assistir por 3 minutos e, pá, já pede alguma coisa. Ainda bem que vê pouco.

Beijos
Rita

::Fer:: disse...

"Filha, sabe porque os shoppings botam as escadas rolantes desencontradas? Para fazer a gente circular mais, olhar vitrine e ter vontade de comprar"

"Mãe,isso é mais uma daquelas coisas enganosas de publicidade, né?"

You go, girl!

Suzana Elvas disse...

Em casa a regra foi mudando. Quando eram menores, era um "brinquedo só quem dá é Papai Noel - ele não repete brinquedo, então cuide bem dele; ele começa a trazer cada vez menos se você não doar o que não brinca mais; e ele só traz o que você REALMENTE vai brincar."

Agora que elas estão maiores, a regra é: você PRECISA disso? Um dia, o pai levou uma delas pra comprar roupas numa loja cara de shopping. Como os aniversário das duas são distantes 15 dias, levei a outra pra comprar as mesmas roupas - em lojas do Centro e em pontas de estoque. A segunda comprou quase o triplo que a primeira.

E sim, Josianne, concordo que há toda uma geração de pais que acha que o mundo tem que educar seus filhos. Mas chegamos a um ponto em que eu tenho que ligar pro Ministério da Justiça pra perguntar porque, num DVD, o trailer do filme infantil (10 anos) é de um filme para 16 anos - incluindo um estupro nos primeiros dois minutos. Chegamos ao ponto de eu contar um "idiota" a cada dez segundos num desenho infantil que passa num canal infantil. Que eu tenho que explicar pela enésima vez que NÃO, mesmo a menina da propaganda tendo cara de 10 anos elas NÃO vão para a escola maquiadas, de salto e short entrando na bunda.

Se os pais que educam seus filhos não falarem nada será um vale-tudo - e passaremos a criar os filhos em ilhas dentro de casa, o que, em absoluto, não é o que querem esses pais que, na sua maioria, lutam por um mundo melhor porque criam justamente seus filhos para ele.

Manoela disse...

Eu concordo totalmente com a regulamentação da publicidade tanto aquela direcionada ao público infantil quanto aquela que usa a criança para vender produtos de adulto, como por exemplo de operadora de celular, carro, etc...

Denise Simone Bacellar disse...

Ola gente,
Acho que as propagandas infantis são maçantes, chatas mesmo. O meu filho só assiste as que tem carrinhos. Mas ele curte mesmo os comerciais de carros de verdade. Não me importo com o fato dele assistir mais comerciais do que os programas, pois eu fazia isso também. Me importo em conversar com ele a respeito do fato de que os comerciais brincam com a nossa realidade, e que nem tudo o que se vê é de verdade. Não dá pra generalizar e dizer que tudo é mentira, principalmente porque meu sistento vem da publicidade. E quando ela é bem feita é pra ser entendida como benefício e não como enganação o tempo todo. Lembremo-nos que ela é importante e que nossa sociedade é de consumo. Não tem como escapar, então temos que falar muito com as crianças e não dar importancia exagerada para as propagandas. Elas não são fundamentais na vida deles! São apenas distrações. E temos que direcionar a vidinha deles pra o bom senso!
Bjos. Denise.

Tina Lopes disse...

Ah, Denise, eu converso com a filha, direciono etc mas penso naquela maioria de crianças que não está com os pais, pelo contrário, cujos pais/famílias não têm com quem deixá-los e fazem da TV a tal "babá eletrônica". É sobretudo pra elas que eu acredito que a publicidade infantil deva ser proibida.

Anônimo disse...

Tina, bárbaro seu texto! Segue duas dicas de documentários (talvez até já tenha visto) sobre o assunto:
Criança, a Alma do Negócio (2009)
Consuming Kids - Crianças do Consumo (2008)
Ambos podem ser baixados no site Doc Verdade.

Abraço!

Sergio Franco