sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Dos companheiros

Estive no sindicato esta semana para encaminhar os papéis da carteira internacional de jornalista. Nas viagens anteriores ao exterior eu bobeei, porque com ela o jornalista não paga para entrar em vários lugares como museus e pontos turísticos, uma tremenda economia. Como era de se esperar, foi uma viagem aos anos 80. O sindicato continua o mesmo, tem aquele climão de funcionalismo público caricato, de paletó na cadeira, dois guris indies no Facebook enquanto a secretária faz tudo, atende os telefonemas, imprime, faz café etc.

Cheguei no trampo e comentei com o pessoal da redação o que tinha feito, por que tinha demorado tanto (sou frila mas cumpro horário). Aí todos - todos - comentam que ainda não tinham DRT - o registro profissional de jornalista. 

Corta pra reflexão: sou contra a obrigatoriedade de diploma de jornalista. Tenho o meu porque quis trabalhar na área. Mas poderia ter feito qualquer outra faculdade de humanas e teria o mesmo histórico profissional, porque as matérias específicas não me fizeram a menor diferença. Nenhuma. Zero. Só estudei e utilizei o que aprendi de Literatura, Redação, História, Filosofia, Antropologia.

No dia seguinte, vejo uma movimentação entre os colegas: estão verificando os documentos necessários para fazer o tal registro através, diretamente, do Ministério do Trabalho. São muitos e bem chatos de resolver. Dou um palpite: "por que vocês não vão direto ao Sindicato, lá é bem mais fácil". 

Foi como contar uma piada suja. Riram e se indignaram ao mesmo tempo. "Imagina, aí vou ser obrigado (a) a me sindicalizar, nem pensar, que absurdo, ter um desconto no meu salário!". A mensagem clara foi: nós somos espertos, você é trouxa.

Aí me deu uma tristeza. Veja bem a contradição. Sou contra o diploma, mas sou sindicalizada. Sempre que estive empregada regularmente, paguei a mensalidade. Já votei algumas vezes na eleição do sindicato, até - apesar de ser sempre chapa única. Me explico: se hay categoria, se faço parte da categoria, então vou me comportar como uma operária da categoria. Se eu não sou sindicalizada, automaticamente estarei do lado do patrão. E o Patrão do jornalismo, não se enganem, ainda é aquele capitalista de charutão e uísque, tão caricato quanto a secretária oitentista do Sindicato. Disfarçado, mas é esse o espírito, ou a alma do negócio. A meu ver o diploma, ao contrário do que argumentam, não protege a categoria de salários ínfimos, mesmo porque o piso salarial não poderia ser menor.

Não sou sindicalizada por mim: nunca quis me valer das leis trabalhistas para processar ninguém, apesar de ter tido, inúmeras vezes, razões para isso (aí é outro papo, porque eu acho que sou adulta e vacinada para aceitar um contrato de trabalho, cumpri-lo e não exigir, depois de sair, direitos que não tinham sido colocados na mesa). Sou sindicalizada simplesmente porque sou uma CDF, porque acho que é minha obrigação com meus pares, enfim, porque sou demodé, antiquada, do tempo em que a gente pensava na "categoria", no coletivo. De fato, me vejo espelhada nos olhos dos colegas tão novinhos e tão espertos e me reconheço: uma trouxa.


7 comentários:

Roberta disse...

Gostei muito, Tina. Penso como você.

Palavras Vagabundas disse...

Tina,
infelizmente é essa geração que está no mercado de trabalho: coletividade, que é isso?
Vejo isso em todo canto, triste.
abs
Jussara

Anônimo disse...

sua CDF!!! não se fazem mais cdf como vc Tina.
beijinhos
madoka

Fatima Valeria disse...

Putz! às vezes tb penso q estou demodé com esse tal de coletivo, é pior q falar grego...Abraços

Anônimo disse...

na sei se necessariamente vc eh trouxa ou essa geraçao ta perdida. Acho que nem uma coisa e nem outra. Outros tempos, outros olhos, outra postura, outros caminhos.

Ludelfuego

Amanda disse...

Trouxa sou eu que morei 5 anos fora e nem sabia que dava pra tirar essa carteira internacional! E tbm nem tenho o registro profissional, aiaiai. Vou ver isso aê. Valeu a dica.

Anônimo disse...

Sei lá, sou da nova geração e tirei meu DRT assim que peguei meu diploma, recém chegada em Curitiba, com os sapatos ainda na poeira vermelha de Londrina. Fui ao sindicato, fiz minha carteirinha, que carrego na bolsa com todos os outros documentos (vale como identificação, igual a CNH e RG). Cada um,cada um. O sindicato pode ter todos os defeitos do mundo, mas concordo com vc, se não sou do sindicato, sou do lado do patrão - e que tristeza os patrões do jornalismo, não?

Ótimo texto, Tina, como sempre.
=)